sábado, 29 de setembro de 2012

Capitulo 2: Djinns and Dragons - Parte 3 - FINAL

Intermission: Dionathan


Fechei a porta atrás de mim e sentei na escadaria que dava diretamente no supermercado.

Acabo de escapar de uma bela bronca, e ainda evitei o tormento de ser chamado de “Daisy” ou “Margarida. Obrigado, Deuses protetores. Continuem me protegendo da Noilma.

Nessa aeronave, cada aberração possui um nome, mas como reles e nada normais criaturas que não tem o que fazer, concordamos em inventar apelidos uns para os outros.

Não é algo difícil de entender se levar em conta o tédio que encaramos aqui todos os dias.

Sim, o tédio.

Há cerca de uma semana que levantamos vôo de Royal Island. Os Dark Merchants que nos acompanharam a bordo da Izanagi abandonaram o veículo três dias atrás. E desde então, nossas festas cessaram e caímos em um limbo de monotonia.

Mark disse que estávamos próximos a um continente que lhes interessava, então saltaram de paraquedas enquanto deixavam para trás alguns mantimentos. Eles provavelmente caíram no oceano, portanto tudo bem. Afinal, devem ter alguma bóia no meio daquelas mercadorias... Eu espero.

Maldição, por que só pensei nisso agora?! Por que diabos eles teriam uma bóia com eles?!

Talvez  porque fossem Dark Merchants. É, faz sentido. Eles não pulariam se não tivessem... Eu preciso parar de pensar nisso.

Suspirei.

Acho que estou fazendo inúmeras expressões estranhas enquanto reflito, mas tudo bem. Não há mais ninguém aqui.

Bom, isso não pode ser ajudado. Eu tenho certeza de que eles estão bem... Gostaria de ter deixado todos em um lugar melhor, mas não controlamos a Izanagi. É ela quem decide nossa trajetória e destino. Ela meramente segue seu próprio rumo e pára onde quiser.

Por sinal, há um leme no final do corredor três neste andar, na seção das guloseimas, mas como ele não funciona, ninguém se importa, e assim acabamos gerando uma espécie de vítima de exclusão social, ignorando-o sempre que podemos.

Este é um belo passatempo por aqui. Ignorar as coisas. Embora sejamos talentosos nisso, ninguém é capaz de ignorar ameaças vindas de uma fujoshi.

Sinto que a cada dia que passa, perdemos lentamente nossa sanidade. Precisamos de mais pessoas normais por aqui, ou passatempos, ou pelo menos passar mais tempo longe dessa ilha voadora.

Olha, legal. Um saco de arroz saltitante!

- Olá saco de arroz saltitante!

Certo, eu acabei de me comunicar com um saco de arroz... Que está pulando incansavelmente na minha frente? E que diabos é isso?

- Ei... Ei, saco de arroz-san... Você ta bem?

Ele se jogou da escada e caiu, degrau por degrau, rolando de seu próprio jeito.

- Você quer que eu te siga?

Depois de cair do ultimo degrau, ele se ergueu e acenou positivamente.

Bom, por mais idiota que isso possa parecer, por mais senso comum que eu possa ter... Não posso ignorar um arroz saltitante. É simplesmente excêntrico. Tem um certo grau psicológico de identificação envolvida nesse processo. Então... aye, vamos seguir o saco-de-arroz-san!

Mas para onde você está indo? Sinto que perguntar não vai me trazer muitas respostas, mas alguém precisa contribuir pro suspense da trama. Ei, este é o corredor de ingredient- O QUE?!

Ele está... Vazio...
Pacotes espalhados para todos os cantos e... Arroz. Arroz, por todo o lugar!

- Droga, eu sinto muito... – caí de joelhos perante o pacote de arroz que me trouxe – eu não pude protegê-los como deveria... Minha lâmina não foi forte o suficiente. – me curvei perante a ele em sinal de arrependimento. – Eu sinto pela minha fraqueza...

Isso é tudo culpa da Noilma e do Ciro.

De vez em quando os dois assumem o meu posto de cozinheiro desta espelunca. Seja para me dar uma folga, ou porque um lado obscuro e oculto de minha alma vem à tona e luta contra tudo e todos na tentativa de obter um bocado a mais de almoço

É, eu sou um desses personagens que tem espírito no corpo. Não, não adianta benzer, eu já tentei. Essa coisa simplesmente me domina e me faz querer comer as coisas quando a fome bate, então é como se eu vivesse em um eterno dilema em que cozinho e escondo a comida de mim mesmo.

Mas... Como se não bastasse os dois queimarem um fogão semanalmente – o que exigia assaltos massivos às lojas de eletrodomésticos – eles ainda não calculam as quantidades a serem servidas.  Pessoas que levam este tipo de filosofia de vida merecem a morte.

Não, eu não sou pão duro. Pare de pensar isso!

Eu sei que parte da culpa é minha por ter comido exageradamente na hora, mas isso só faz eles serem ainda mais culpados por não terem me detido!

O saco de arroz que me encarava... Ou que parecia me encarar, finalmente se aproximou e acariciou minha cabeça. Acho que isso é algum tipo de sinal de perdão, fico feliz.

LIKE HELL!

Levantei e chutei o saco de arroz com tudo o que tinha para longe.

- Eu não vou cair nesse truque mais uma vez!

- Mano, deixa de ser chato. Não da pra cair como na primeira vez?

Ela apareceu. Flutuando na minha frente, uma garota baixinha e asiática com uma fumaça vermelha exalando de suas pernas.

Efeitos especiais bem legais, mas você não pode enganar o grande líder-samurai que tem a percepção mais aguçada do que a própria lâmina da espada! Boa, essa frase foi maneira.

- “Mano”? “MANO”?! Onde neste planeta uma Djinn fala dessa forma?

- Ei, qual é o preconceito? Nós também usamos gírias.

- Dildo! Pelo visto você achou ela. – Andrew vinha correndo do andar de baixo para me salvar daquela situação inconveniente.

Recomendo que os desinformados NÃO PROCUREM saber o significado desse apelido.

Andrew é mais uma espécie perfeita de aberração que citei mais cedo.

Por que todos têm que inventar nomes tão constrangedores?! Não basta o nome? Eu sou o fundador deste grupo. Eu não ligo se discordarem disto, mas pelo menos tenham certo grau de noção de hierarquia e entendam a situação quando eu proibi-la em algum futuro distante!

- Andy. Por que a nanica estava perambulando sozinha pela Izanagi?

- It’s not my fault... – suspira - Ela simplesmente escapou. É difícil segurar fumaça... Se é que me entende.

Que ser complicado fomos arranjar... Isso explica toda a polêmica por trás do preço de um Kinder Ovo. Mas ainda assim acho que deveria ser mais barato.

- Eu não preciso de uma babá, ainda mais se for ele! – retrucou. – Eu sei me virar sozinha.

- É só até conseguirmos te chutar daqui, não esquenta. – acalmei a Djinn.

Estou sendo encarado com desprezo.

Droga, nós somos os melhores em conquistarmos o desprezo de alguém.

- Certo, certo. Parece que não vamos conseguir te prender no andar de jogos, e acho que Djinns não precisem se alimentar, não é?

Ela nada disse, apenas continuou ouvindo o que eu dizia como se eu fosse apresentar alguma solução eficiente. Mas não vou.

– Sério, isso tudo não estaria acontecendo se o Rodrigo tivesse me dado a granada de aprisionamento que estava guardada no armazém lá na cobertura. Mas ao invés, ele me da uma bala de borracha na cara.

ARRRRRRGH! De onde diabo veio toda essa água fria? Espera, desde quando temos um balde flutuante no teto? Ah... Sim... Entendo.

- Acho que nossos gênios não batem. Gênios, entenderam? Haha. – Tremi de frio e me encolhi.

- Espero que aprenda.

- Não me faça explodir com você.

- Ei, parem com isso. Se vocês quebrarem alguma coisa a culpa vai cair em mim também. E por falar em explodir...

Engoli seco.

É agora.

Adeus a todos. Foi uma boa aventura enquanto durou, por mais monótona que tenha sido seu final.

-Dildo, eu te entreguei algumas granadas na semana passada, não foi?

- UM CAVALO! NÃO, UM PINGUIN! Não, um cavalo-pinguin surgiu na ilha em que descemos e precisei usar! Sim, todas, todas elas!

- Understood.

Entenda você também; isso não era lá uma desculpa estranha neste planeta.

- De toda forma, eu sabia que isso aconteceria, mesmo pedindo para você apenas guardá-las para mim. É bom saber que você serve para testes deste tipo.

Cretino, então eu me remoí tentando esconder isso de você por sete dias à toa? E ainda por cima, era um teste?! Já pensou se elas funcionam de uma maneira errada? Eu podia ter me explodido junto!

Mas conhecendo ele, é bem provável que a intenção tenha sido essa.

- Dá para fazerem os três pedidos depressa?

- Por que tão rápido? – Andrew assumiu o interrogatório.

Sentei em um caixote vazio que estava próximo a uma prateleira e fiquei a ouvir.

- Hã? Para me tornar humana novamente, é lógico! Depois de realizar os seus três desejos eu finalmente vou poder me libertar daquela mini-lâmpada dourada e poder andar por aí, livre com todas as amigas que farei! E então viajaremos pelos céus em uma aeronave! E... E...

- Olha, não adianta apressar. – interrompi – não podemos tomar esse tipo de decisão assim. Precisamos conversar com os outros membros do grupo. São só três desejos, afinal.

- Então vá conversar com eles!

Olhei para as escadas pelas quais desci. Eles ainda estavam lá em cima, provavelmente ouvindo da Noilma.

- É melhor não... – estremeci.

Algo me diz que não foi o frio.

Quando você dá motivos para uma mulher te castigar verbalmente, elas não param. Sinto pena daqueles dois.

- E se eu desejar você de boca calada?

- ...

- Congratulations, Dildo. Um pedido a menos.

- Mas... Mas eu não... AHHHH, MAS QUE DROGA! Volte a falar!

- Agora você só tem mais um desejo. – ela sorriu.

- O QUE?!

- Por favor... Fique calado, Dio.

Eu abaixei a cabeça e respirei fundo.

Não estou pensando direito. Deve ser por causa de tanta chatice acumulada.

- Sinto muito, é tédio acumulado.

- Eu entendo bem, eu queria que esse lugar fosse diferente.

Paramos.

Nos entreolhamos.

Começamos a suar frio. Já era.

A garota sorriu, e dançando feito uma cigana, realizou a sua façanha; tudo tremia.

As prateleiras ameaçavam tombar, mas não importava, porque uma por uma, elas se quebravam em pedaços, e então viravam farelos, e iam se reduzindo até desaparecerem. O mesmo aconteceu com os outros itens, até a sala ficar vazia.

Mas os tremores não cessaram. Eu me segurei à parede, Andrew se pôs no chão protegendo a cabeça.

Quanta poeira caindo do teto. Por que nunca faxinamos isso daqui? Mesmo tendo uma garota no grupo... Qual o nosso problema?

Se bem que teias de aranha e poeira tem lá seu charme. É, esqueça a limpeza.

E então, as paredes começaram a se curvar, simplesmente entortaram, e o gigante andar que antes era um retângulo se tornou um círculo.

Na extremidade sul, a parede se tornou de vidro permitindo observar a ilha toda e o horizonte. Então, surgiu uma porta nessa vidraça e o chão se estendeu a sua frente. Um posto de vigilância. Uma verdadeira varanda em formato de triangulo retângulo cuja base se conectava com o andar e a ponta se virava para o sul da ilha.

Ao norte, cercando dos dois lados as escadas que subiam para a cobertura, surgiram duas lanchonetes extensas, mas aparentemente eram a mesma porque partilhavam do mesmo nome. “Bar Sashiburi”

E então, na frente dele, algumas cadeiras e mesas se ergueram com alguns vasos decorativos fechando a área para lanche.

A parede leste se tornou completamente coberta por uma Tv de incontáveis polegadas. Decorações como quadros, fliperamas, e outras coisas surgiam na parede a oeste.

No centro, uma espécie de globo semi-circular surgiu. Estampada em sua face, um mapa do mundo com os continentes até então descobertos. Era possível girá-lo e em caso de necessidade, também daria para acrescentarmos informações e desenhos.

E a nordeste deste globo, um grupo de sofás surgiu, formando um quadrado. Perfeito para cochilos.

O teto foi revestido por um papel de parede que representava o céu noturno, onde as estrelas brilhavam como se fossem verdadeiras. 3D é um termo muito fraco para dar natureza a realidade do que estava representado ali.

A escada que levava até a cobertura se ramificou em três, e o teto que ficava a uma distancia considerável do chão, descera um bocado. Não era incômodo, mas passava a sensação de que um novo andar surgia sobre nossas cabeças.

E então, os tremores pararam. Tudo estava calmo... E limpo. Eu e Andy nos levantamos. Nós gastamos todos os três pedidos de uma Djinn com coisas totalmente desnecessárias e inúteis...

Tudo bem que este último pedido valeu um bocado a pena porque... Wow. Mas Rodrigo vai nos matar.

- Certo, Andy. Todos vimos que a culpa foi inteiramente sua.

- Você tem 2/3 mais culpa do que eu.

- Não sei do que você está falando. Eu não fiz pedido algum e você não pode provar o contrário.

- Bom, ela pode testemunhar a favor da verdade. – apontou para a garota.

Eu tinha me esquecido dela até agora.

E para nossa infelicidade, o dano era irreversível; ela não estava mais flutuando, mas sim correndo com as próprias pernas pelo andar, feliz.

Não era mais uma Djinn, mas uma humana.

- Finalmente, finalmente! Eu sabia que algum dia um idiota surgiria para me ajudar!

Ei, estamos bem aqui, você sabe disso, não sabe? Melhor segurar a raiva e fazer de conta que não ouvi.

- E o que são aquelas escadas?

- Elas levam para os dormitórios! A da esquerda é o masculino e a da direita leva ao feminino.

E dragões? Amigas imaginárias? Será que ela sabe que temos estes tipos de criaturas a bordo? Francamente... Mais casos de exclusão social dentro dessa aeronave?

- Mas nós não pedimos por isso. – Andrew.

- Considerem um presente. Me senti mal por vocês terem feito só um pedido descente.

Entendo. Nós também sentimos pena de nós mesmos, acredite. Mas independente disso...

Eu corri, pulei em um dos sofás, e depois para a praça de alimentação me aproximando do Bar Sashiburi do Oeste.

Sim, porque eles precisam de nomenclaturas para se diferenciarem.

Olhei para trás e vi Andrew analisando os outros objetos que surgiram, provavelmente procura algo de seu interesse. A ex-Djinn já estava caída em algum canto. Acho que estava cochilando.

Deve ser fácil se acostumar a dormir tão facilmente depois de passar algum tempo dentro de uma mini-lâmpada.

Me voltei mais uma vez para o Sashiburi do Oeste.

Entre eu e seu interior, o balcão e as banquetas. Estava todo equipado. Frigideiras, facas, copos. Em seu interior, um alçapão.

Com uma pequena investigação, foi fácil descobrir que aquela entrada no chão conduzia a um estoque de alimentos. Mas curiosamente, dentro daquele local, havia uma escada de frente para a qual desci que desembocava no Bar Sashiburi do Leste.

Então eles eram interligados. Agora as coisas fazem mais sentido... Embora desnecessárias.

Subi as escadas e saí do Sashiburi do Leste. E quase que simultaneamente, Rodrigo, Ciro, e Noilma desciam. Pareciam tranqüilos. Aparentemente, a mágica apenas afetou este andar, e nada ocorreu nos superiores ou inferiores, nem um único tremor.

Mas toda aquela calma sumiu em um instante.

- QUE LUGAR É ESSE?  

Espera, quem é aquela atrás deles?!

- Cuidado!  - fiz uma espada levitar apontando para a garota que surgiu de trás do Rodrigo.

- Intrusa! – Ao mesmo tempo, Rodrigo sacou suas pistolas e Ciro pegou em sua lança, apontando para a garota de olhos levemente puxados que dormia.

Ficamos nos encarando por um tempo, até que Noilma explicou toda a situação. Quem era Heike, o que era. Falou também sobre a Djinn.

Poupando nossos leitores, aproveitei e também expliquei o que alterou a estrutura da Izanagi:

- E então, a Djinn simplesmente alterou o andar porque seus poderes saíram do controle. Isso fez com que ficasse sem forças e virasse uma humana comum!
Eu não podia dizer a verdade. Andrew me olhava com cara de musgo enquanto eu inventava aquela mentira cabeluda.

Mas o importante é que tudo vai ficar bem. Ninguém vai acusá-la por isso. Yey.

- Então este é o novo supermercado? Legal. – Ciro.

- É uma forma de se ver isso... Eu acho... – Andy suspirou.

- Só que não. – Noilma se sentou em um dos sofás - Mas eu gostei do novo visual. É bem completo, também. Tem um pouco de tudo.

- Mas ainda é estranho. Pelo que ouvi, Djinns geralmente concedem três desejos.

- Ela deve ter gastado com outro alguém.

Obrigado por essa resposta Ciro. Você acaba de me poupar de mais uma fantasia mirabolante.

E então, Heike voltou ao normal. Isso era inédito para quase todos. Já sabíamos que ela era um dragão, mas nunca presenciamos sua transformação.

Passamos mais um tempo conversando e discutindo as vantagens que teríamos, e também as desvantagens mínimas que aquilo tudo traria. 
Mas não importa como você encare a situação, hora ou outra vamos ter de encarar aquilo...

Os Andares Proíbidos. Não podemos adiar isso para sempre...

... Mas podemos por hoje.

O sol estava se pondo. Com a ajuda de Heike, Noilma trouxe a garota de traços orientais para a varanda onde observávamos o céu.

Não sei qual a altitude que alcançamos, mas sei que essa paisagem é exatamente como um dos quadros românticos que sempre observamos em exposições de arte.

E lentamente, o alaranjado ia se tornando avermelhado a medida que o sol se abaixava no horizonte. Continuávamos conversando, bebendo suco de laranja que fora feito por mim com a ajuda de Ciro e Noilma.

Meu preferido. Com a mesma cor do poente.

À medida que nossas risadas ecoavam pelos céus e comemorávamos o nascimento de uma nova QG, um grupo de pássaros enormes de cor branca decidiu nos ultrapassar voando em direção ao horizonte e seu deslumbrante pôr-do-sol.

= Ending =

domingo, 23 de setembro de 2012

Capitulo 2: Djinns and Dragons - Parte 2

Intermission: Rodrigo

Tudo o que pude fazer por um tempo foi continuar observando minha filhote de dragão brincando com o ar. Ela já consegue planar por alguns segundos, então o que ela mais faz é pular e planar para longe. O que é realmente perturbador, é o fato de que ela aparenta estar fugindo de alguém… E agora a pouco o Ciro disse: — Bom, nem eu sou tão obsecado a pondo de ter ciúmes de um dragão, pode brincar com ela, Yuu.

Tenho certeza que ouvi isso. Desde então não consigo me mecher. Será possível que o Ciro não é um completo lunático? Não, não, ele com certeza é. Não há dúvidas disso. Yuu não… Mas então de quem o dragão (que ainda não dei nome) está fugindo? Será possível que… não, não pode ser… não, quer saber, não devo pensar nisso. Pensar sobre isso só vai me deixar ainda mais louco, e meu psicológico já não anda muito forte, com as constantes torturas da Noilma.

De qualquer forma. Eu roub… digo, adotei esse dragão. É minha responsabilidade cuidar dela. Certo, não posso deixar as coisas assim. Sem pensar mais, peguei a filhote sem nome pela cauda e comecei a correr. Enquanto me afasto as pressas, ouvi a voz do Ciro.

— Hum? O que foi Yuu? O que? O Rodrigo fez algo para você?… Não se preocupe, eu vou arrancar os braços dele e ele nunca mais vai fazer mal nenhum para você, ta bom?

…Parece que arranjei um problema maior do que pretendia.



Entrei na cobertura e tranquei a porta de acesso. Ótimo, sou o único que vem aqui durante o dia. Não deve ter ninguém aqui. …Como esperado, a filhote se manteve comportada sem brincar longe dos outros. Certo, então ela só faz aquilo quando tem alguém perseguindo ela… Acabo de admitir que a Yuu é "alguém", droga, estou ficando tão louco quanto o Ciro. Droga, o que fazer? Não posso continuar nessa situação. Estou fazendo monólogos desde o início do post. E não tenho desculpa alguma para iniciar uma luta nessa situação. Dessa forma ninguém vai ler isso… Ok, preciso pensar em algo.

— Hmm, falando nisso… preciso dar um nome para você. Sua mãe se chamava Dino (mudado recentemente para Dina), então talvez… Diana? Não, não, isso não parece certo. Algo que lembre mais um dragão talvez… O que você acha?

— Prrrruuu!

— … Você por acaso entende o que eu digo?

— Prrru! Prrru!

… Isso não é possível, é? Ela ainda é um filhote, não tem como ela ter aprendido linguagem humana em tão pouco tempo. Ou é? Eu não teria como saber, aparentemente as cordas vocais dela só são capazes de reproduzir esse "Prruu".

— Err, se você me entende… bata as asas duas vezes.

*flap* *flap*

… coincidência, é claro.

— Repita comigo: prru, prru, prru… prru, prra!

— Prru, prru, prru… prru, prruuú?!

— Há, errou a última nota! É claro que você não me entende.

… De alguma forma, ela não parece meio triste agora? Ei, não estou acostumado com dragões, mas isso é uma expressão de choro? Ow droga, talvez eu esteja maltratando ela sem perceber? Acabo de virar um bully do pior tipo, que fere os sentimentos dos outros sem perceber?

— Me desculpe! — Disse abaixando minha cabeça.

— Prrruu!

Ah, veja, ela voltou ao humor normal. Que adorável… Ha há, ela me entende, ela entende tudo o que eu digo…

— Vou alí bater minha cabeça na parede por um instante e já volto.

Pensando bem, talvez não… sinto que já tem várias coisas erradas com a minha cabeça desde o início desse post…

— Bom, isso torna as coisas mais fáceis. É claro, vou citar alguns nomes e você apenas me avisa quando ouvir um que gostar.

— Prrrrrrrruuuu!

— Certo, vamos começar! Ana, Angélica, Bia, Beatriz, Cléo, Catarina…

Recitei todos os nomes femininos que consegui pensar no momento, apesar de que abandonei logo a idéia de citar nomes em ordem alfabética. Para começo de conversa, não é ordem alfabética se eu desconsiderar completamente a segunda letra. Mas ela não reagiu a nenhum dos nomes.

— Você é dificil de agradar, hein?

— Pruu… Prrrr! Prrru… prrrrrrrr, prrrrrruuuuu!

— Não entendo nada do que você diz, não se esforce tanto.

Ah, ela está ficando triste de novo. Droga, eu fiz de novo? Não tem jeito, sou uma falha como criador? Hum? Parece que ela está fazendo força… Espere, não pode ser…

*puf*

Ok, esse barulho foi parecido com o que eu esperava… Mas daonde veio essa fumaça rosa?

— Ahhh! aaaah! Um? Consigo falar nessa forma!

Err… estou ouvindo a voz de alguém quando não deveria ter ninguém. Finalmente peguei a doença do Ciro?

— Meu nome é Heike, não parece, mas é um nome alemão feminino.

…Uma pessoa desconhecida está dizendo coisas que não me interessam. Quando a fumaça baixou, no lugar da filhote de dragão, apareceu uma garotinha de aproximadamente 11 anos de idade, pele clara e cabelos escuros… Ok, coisas estranhas acontecem, para onde foi meu dragão agora?

— Beth? Cade você? Carla? Droga, deviamos ter decidido um nome, é dificil procurar alguém sem nome…

— Por que você está me ignorando?!

— …Não quero aceitar a realidade do que acabei de ver, então estou fugindo dela, distorcendo minhas memórias para algo mais favorável…

— …Não faz sentido se você disser isso sobre si mesmo! Espere, então você entende que eu sou a Heike, certo?

— Sim, mas ainda não aceitei isso. Na minha fantasia, você é uma pessoa desconhecida que apareceu do nada e fez meu dragão fugir.

— Já disse que não faz sentido dizer esse tipo de coisa se você entende a situação!

— Entenda minha situação aqui… Todos os personagens importantes deveriam ser representações de pessoas reais, até mesmo a Yuu que não existe aqui deve… talvez… existir de verdade. Por isso peguei um dragão de estimação, diferente do Ciro, não consigo simplesmente adotar alguém para ser meu pet. Então resolvi criar um dragão. Mas é inútil se você puder virar humana dessa forma. Se você é um ser inteligente e capaz de virar humana, então isso faz de mim um pervertido!

— …Não faço idéia do que você está falando… E você já não acha que usou piadas da quarta dimensão de mais nesse único post?

— Você acabou de fazer uma sem perceber.

— Err… enfim, por que minha existência faz de você um pervertido?

— Porque eu sou um lolicon! MAS! Não sou um pedófilo! Me importo com a idade, apenas me sinto atraído por garotas que parecem ser mais jovens do que realmente são. Só que os outros não entendem isso, provavelmente isso é apenas uma desculpa para eles. Sim, eles acham que sou um pedófilo… O que eles dirão se me verem andando por ai com você? Considerando que você nasceu em um post não faz muito tempo. Você conta praticamente como uma recém nascida! Entende o que isso quer dizer? Eles não vão simplesmente me tratar como se eu fosse um pedófilo que deveria estar atrás das grades, vão me tratar como um toddlercon que não deveria ter o direito de continuar vivendo!

— Mas eu sou um dragão, o que isso tem a ver?

— Você não ve muitos filmes e animes não? Basicamente, qualquer coisa humanoide, ou que tenha a habilidade de se tornar humano conta como um potencial par romantico.

— Humanos são estranhos… Bom, só preciso me manter em forma de dragão e só virar humana quando tiver que falar algo então, certo?

— Hmm, sim, pode dar certo… Ok, não preciso mais fingir que você é uma desconhecida e que meu dragão desapareceu.

— Você ainda estava fazendo isso?

— Agora, precisamos guardar segredo. Ninguém, jamais, em hipótese alguma pode te ver dessa forma.

— Ah, Rodrigo, você estava ai. Preciso pedir algo emprestado…

*bam*

Eu matei o Dionathan.

Foi necessário… ele quase descobriu meu maior segredo… Sinto muito… E como diabos ele abriu a porta? Eu tinha trancado… Não faz mal, vendo o corpo dele cair na direção de onde ele veio, me apressei e tranquei a porta com uma barra de ferro. Dessa vez ninguém pode entrar. Desculpe Dionathan, com esse buraco em sua testa, duvido que possamos fazer um funeral com o caixão aberto.

— Argh! Maldito, abra essa porta! E por que você atirou essa bala de borracha na minha cara?!

Balas de borracha? Entendo, faz sentido. De qualquer forma…

— Heike, volte ao normal logo… Essa porta não pode segurar ele por muito tempo!

— Só posso me transformar uma vez a cada dez minutos.

Good grief.

— Rodrigo, vou acabar com sua raça por ter feito a Yuu chorar!

Um mecha de combate com sete andares de altura pousou na cobertura.

…Verdade, o Ciro tinha ficado irritado no começo disso tudo. Essa é minha chance, vou destruir esse clima de comédia e forçar uma luta sem sentido por razão nenhuma! No final resolveremos tudo na base da violência!

— Como você pretende lutar contra um mecha com balas de borracha?

Bem pensado, ainda bem que Heike me avisou. Mas se não posso usar poder de fogo, ainda tenho minhas habilidades em magia branca!

— O que é isso? Tem alguém com você? Não importa quantos sejam, destruirei todos!

Ainda bem que o Ciro é um completo lunático.

— Heike, use essa chance para se esconder. Tirando o Ciro, ninguém mais é tão idiota!

— EU OUVI ISSO MALDITO! AGORA VOU ARRANCAR SUAS PERNAS TAMBÉM!





A luta foi interrompida antes mesmo de começar. Por dez minutos fomos torturados com cenas de Junjou Romantica sendo transmitidos diretamente para nossas mentes… Não, não pode ser… eu decorei o nome disso? NÃAAAAOOOOOOO!!!

— Se vocês lutarem aqui vão destruir tudo, seus idiotas.

Noilma apareceu do nada e começou a dar uma bronca. Aparentemente o Dionathan fugiu antes que ela pudesse percebê-lo.

A Heike ainda está em forma humana. Ah, a Noilma está fazendo cafuné nela. É inútil, elas já se conhecem agora… Meu maior segredo… foi exposto… E eu nem consegui lutar durante o post todo… Sinto como se tivesse perdido várias coisas importantes hoje. Entre as que consigo listar são: Minha sanidade, minha dignidade, e minha ignorância sobre nomes de Yaois… Hoje é um péssimo dia.

Pensando nisso, deixei a fadiga mental tomar conta de mim e desmaiei.

Capítulo 2 - Djinns and Dragons - Parte 1

= Opening =

Intermission: Ciro

Depois de uma batalha relativamente fácil contra os Royal Guards, fugimos para nosso próprio navio/ilha voador.

- PORRA NOILMA, PRECISAVA REALMENTE USAR SEU PODER DE TRANSMITIR CENAS DE YAOI NA MENTE DELES? - O Rodrigo dizia, indignado, enquanto estávamos na praça de alimentação dentro de um shopping no nosso navio. 

- Lógico que sim, quem sabe eles gostam - replicou ela, serenamente.

- De fato, realmente tem aumentado o índice de homossexualidade na Royal Guard desde nossos ataques lá na Royal Island. - O Andy estava mexendo no tablet enquanto conversava conosco.

Eu estava cozinhando junto com a Noilma em um fogão que trouxemos de um dos restaurantes. Ela fazia o arroz, feijão, farofa, bife e xuxu dela enquanto eu preparava uma lasanha, sanduíches, e um filé a parmegianna. 

- Mais alguém vai querer um pouco da minha comida? - Ingadou a tola Noilma. Claro que vão preferir o que eu preparei!

- Eu quero! - Responderam o Dio, Rodrigo e Andrew em coro. Malditos. Pelo menos a Yuu vai querer comer comigo, fidamães.

Depois de almoçarmos, separamo-nos em dois grupos. Dionathan, Andrew e Noilma foram ao supermercado no último piso enquanto eu, o Rodrigo, a Yuu e a dragão fêmea do Rodrigo fomos à loja de games no penúltimo piso. Os pisos abaixo desse... bom, neles acontecem coisas ruins então não costumamos descer neles.

- Ciro, maldito, se apresse para eu poder voltar a assistir anime enquanto passo as roupas!

- Poxa cara, vamos lá comprar Diablo III

- O shopping é nosso, não pagamos por nada. Além disso nada mais avançado que Ragnarok roda no meu pc. - ele disse com uma complexão sombria. Ele parou do nada no meio do caminho. - Por que minha dragão está brincando sozinha? - ele apontou para a Yuu, que estava brincando com a dragão.

Intermission: Noilma

Hm. Tenho que comprar um sutiã novo.

Intermission: Grupo do Andrew, Noilma e Dionathan.

Eles andavam pelo mercado, olhando tudo atentamente. Andrew queria ir embora logo para poder jogar algum MMORPG com mulheres seminuas, Noilma queria ir pra casa dormir e o Dio insistia que ali tinha algo de importante a ser encontrado.

- Vamos lá, vai ser uma aventura! - Disse Dionathan, animado.

- Por que não vão invadir outra ilha de novo e nos deixa fora dessa? - respondeu Noilma

- Ei, eu não quero ficar de fora dessa vez. Até mesmo homens da ciência tem que sair de casa de vez enquando. -Disse Andy

Dionathan estava ansioso por uma aventura, mas estava cansado e não queria admitir. Caminharam até a sessão de doces do supermercado. Quando pegou um kinderovo, comeu-o e abriu o pacotinho pra ver o brinde. Dentro havia uma mini-lâmpada dourada.

- Dionathan, esfregue a lâmpada! - mandou Noilma.

Quando esfregada, uma pessoa saiu de dentro dela. Ela era baixinha, tinha cabelo escuro, olhos orientais e estava vestida com roupas de cigana.

- Muito prazer, eu sou uma Djinn e meu nome é Nathy e você tem 3 desejos! 

- Agora sim as coisas vão ficar interessantes! - disse Dionathan com um brilho nos olhos

domingo, 16 de setembro de 2012

Capitulo 1: RDK - Parte 5 - FINAL

Intermission: Dionathan

- Diga agora onde encontramos a farmácia mais próxima!!

Berrei segurando um homem com um bigode estranho pela gola de sua camisa em meio às ruas vazias daquela mesma cidade.

- Eu... Eu...! – ele gaguejava assustado.

- Arrebenta ele! – Ciro estava logo atrás com os braços cruzados e com a cara fechada como um verdadeiro guarda-costas.

- Senhor, eu não...

- CALADO! – chacoalha o sujeito – Apenas diga! Ou prefere encarar a fúria dos  Royal Guards?!

Sim, exatamente isso. Chegamos onde eu queria!

Eu e Ciro estamos com roupas diferentes das usuais que sempre usamos e que nunca lavamos; trajávamos uniformes oficiais dos Royal Guards.

Bom, você deve estar se perguntando como tudo chegou a este ponto. Pra entender, é preciso voltar alguns minutos no tempo. Então...

Produção, volta a fita!

Bzieum bzium purururu bziuum bzieem bzieeum puru bizeum pururu bzuin bzien bziem bzieum e todo aquele barulho de finta sendo rebobinada.

Pronto, agora sim. Cerca de meia-hora em um passado não-tão-distante...

*

- Ei, Ciro.

Cutuco sua cabeça com o cabo de minha espada. O sujeito estava caído com o nariz para cima bem na minha frente em meio a um cenário totalmente desfigurado.  

A área que nos cercava estava irreconhecível. O chão nem sequer estava nivelado da mesma forma. Os poderes de um alquimista podem ser assustadores se usados com o conhecimento certo.

- Não podemos perder tempo aqui, anda. Vou acabar perdendo Ave Maria da Culinária.  Anda logo.

Falar sozinho é gratificante.

- Eu juro, se isso acontecer, vou te obrigar a comer aquela gororoba enlatada a semana inteira.

Ciro, assim como eu, também venceu sua batalha. Estava com alguns arranhões pelo corpo, mas nada grave.

O andarilho e o alquimista continuam inconscientes. Acho que peguei o mais fraco do trio. E ainda assim permiti que ele me obrigasse a gastar o resto de energia que eu estava guardando.

Mas andarilho é fraco, andarilho não come.

E por isso, aquele porco químico de agora pouco ainda era mais interessante, por exemplo.

- Acorda, mundiça.

Continuo cutucando o sujeito pra ver se da em alguma coisa. Mas é inútil, assim como ele.

Vamos trocar; o que acontece se eu resolver usar a lâmina da espada ao invés do cabo?

Oh, sangue.

Não um rio, mas um cadinho. Agora ta saindo mais. Ah, um rio.

...

- NÃO TA PARANDO!!  - bati na cabeça do Ciro com o cabo da arma – PARA DE SANGRAR!!

Parou, ufa.

Eu realmente não sei como, mas funcionou.

Será que ele sobreviveu mesmo? Talvez tenha morrido. Isso explicaria porque não acorda. E assim sobraria mais comida.

Não, não não não, não vamos pensar  em homicídios só pra conseguir uma fatia extra de bacon.

...

PARE DE PENSAR NISSO! Preciso ocupar minha mente com algo mais produtivo lalalalalalalalalalala.

Armas, isso! Armas são perfeitas para distrair. Espadas, adagas, facas, rifles de cano cilíndrico.

...

- AHHHHHH! – berrei, levando as mãos até a cabeça e chacoalhando feito um boneco de posto. – CANOS CILINDRICOS!!

- AAAH! YAOI!! VAMOS YUU! AINDA PODEMOS FUGIR PARA AS MONTANHAS! – Ciro acordou e ficou de pé em um piscar de olhos.

- Oh, deu certo. Legal. – fiz de conta que foi planejado.

- Maldito, não me tapeie assim.

- Como samurai; só fiz o que meu coração mandou.

- E onde está o Rodrigo?

- Ele saiu correndo naquela direção com um filhote de dragão nos braços. – apontei. – Estava sendo perseguido.

- Pra variar.

Ciro se abaixou e ficou de ouvido em pé.

- Ainda precisamos encontrar os remédios. – se levantou de novo.

- Ótimo, quanto mais cedo melhor.

 O almoço e a janta dessa semana estão a salvo! Shannaro!

- Você não vai com a gente.

- Mas hein?

?????????????????

- Não é complicado, então vê se presta atenção:

Ei, você ta me chamando de tapado?

- Primeiro de tudo, você tem uma aparência estranha; chama muita atenção e não podemos ficar perdendo tanto tempo com batalhas.

Por favor, alguém avise que ele é tão chamativo quanto eu.

- Em segundo – continuou - isso é tarefa minha e da Yuu. E por ultimo... Todas as farmácias explodem quando você se aproxima. Se continuarmos andando contigo, não restará mais nenhuma para roubarmos.

- Você realmente acredita em uma bobagem destas?

Uma casa explodiu atrás de mim.

Foi muito inconveniente pro momento, afinal de contas, de onde estão vindo tantos explosivos? Não faz sentido. Pela mira, não devem estar mirando na gente.

- Viu só? – Ciro deu as costas.

- Espera!  - segurei-o pela gola da blusa – e se nos disfarçarmos? Assim nem mesmo as farmácias saberiam quem somos.

Isso foi algo estranho de se dizer.

Mas não eliminava o fato da missão ter sido dada somente a eles, mas resolvo isso ao longo do caminho.

Ciro parou e me encarou com uma cara de “Eu não acredito que você está usando um clichê destes em uma situação como esta”. Em seguida, direcionou o olhar para um dos Royal Guards caídos.

E foi assim que chegamos nessa grande lenha.

É como dizem por aí, tudo se ajeita na hora errada. Ou hora certa, eu realmente não me lembro. Bom, o que importa é que...

Produção, avança a fita!

Bzieum bzium purururu bziuum bzieem bzieeum puru bizeum pururu bzuin bzien bziem bzieum.

*

Estamos correndo pelas ruas mais discretas da cidade. Becos e regiões marginalizadas dão ótimos atalhos em horas como esta. É preciso evitar trajetos com grande circulação de mercadorias e pessoas.

Não que a cidade estivesse lotada, não mesmo. A este ponto, eu diria que a maior parte dos cidadãos já escapou dessa área e foi para algum abrigo no exterior buscando proteção.

A grande sacada é que estamos evitando conflitos.

Não sei quanto ao Ciro, mas estou sem força, não consigo nem mesmo conjurar uma arma muito consistente. Seria desperdício de magia. E nestas condições eu não seria capaz de a controlar com minhas habilidades. Seria como um boiadeiro. Algum de vocês já viu uma espada flutuante desgovernada? Eu já. É deselegante, tão deselegante quanto um touro ardendo em chamas.
E se há um bom lugar para provocar um conflito em uma cidade, é em seu centro, onde fica tudo e todos.

É óbvio que os guardas estão se movendo pela cidade, mas é mais esperado ainda que estão se concentrando na região central. Isso é apenas lógica comum, qualquer um poderia chegar a essa conclusão.

Ciro, que até agora estava correndo na minha frente enquanto evitava atrair a atenção, finalmente parou. Ele estava com um aparelho nas em mãos que se assimilava a um GPS de ultima geração... ou pelo menos, um mapa digital que devia apontar a localização das farmácias. Chegamos.

- Esta é a última da cidade. Bom, parece que deu certo.

- Hahaha, viu? Eu te disse que aquilo das explosões era bobagem, hahaha. –dei um tapa nas costas do Ciro.

A farmácia explodiu.

Ciro caiu e ficou de joelhos batendo no chão.

- Hahaha, esta era a última... – soca o chão – era a última, você ouviu, Yuu? Sim, sim, eu também acho que deveríamos ter assassinado ele quando tivemos a chance, hahaha.

Ok, as coisas passaram dos limites.

Se mantivermos este ritmo ninguém vai sair vivo desse capítulo... Mas o que diabo eu devo fazer em uma hora destas?! Eu não tenho treinamento contra um amigo que simplesmente acabou de pirar porque não conseguiu finalizar a missão que lhe foi designada. Espadas não corrigem isso!

Não de uma maneira limpa.

- Ahn... Se acalme... – gesticulei com as mãos – está tudo bem, eu conheço muitos alimentos com propriedades medicinais e...

- Não tente se justificar, seu cretino...

- Ei, vocês! Estão procurando medicamentos, não é?

SALVO PELO GONGO!

Uma voz estranha interrompeu nosso drama épico. Era um sujeito estranho que cobria o corpo inteiro com vestes negras. Quase uma burca, mas impossível de ser. Afinal, era uma voz masculina.

E não parecia estar dando muita bola pra explosão que acabou de acontecer. Mas tudo bem. O importante é que ele chegou na hora certa.

*

- Haha, então vocês são mesmo Royal Dark Knights?

- S-sim... Nós somos.

- YEY, BRINDEMOS!!

E assim fazem.

Estamos cercados por uma multidão vestida de preto até a cabeça. O lugar é um bar subterrâneo iluminado por lamparinas acopladas às paredes. O chão e o teto são de terra.  Têm cerca de doze pares de mesas, e a nordeste fica o balcão. Atrás dele, o que provavelmente podemos chamar de barman, e mais atrás, uma porta. Ainda não sei para onde ela leva, mas deve ser algum tipo de dispensa.

Descemos até aqui atrás de remédios e outras coisas que Mark nos prometeu.

E Mark, por acaso, é o sujeito que acabamos de encontrar perto da última farmácia que vimos.

Bom, sem duvidas fomos bem recebidos, mas ainda não vi nada do que viemos buscar.

É tudo muito estranho. Pra entrarmos, foi preciso encontrar uma passagem escondida em um beco, e então encaramos um bueiro que dava em um corredor escuro com um lance de escadas infinito.

E agora, estamos cercados por alcoólatras que parecem fazer cosplay de dementadores.

É engraçado como tudo ficou tão abstrato em uma fração de segundos.

- Ei, vocês estão muito sérios. O que foi? Bebam um pouco!

Mas é claro! É assustador, você não consegue ver?!

- Nós não podemos ficar muito tempo, precisamos pegar os remédios e retornarmos para Izanagi, ou senão...

- Ela partirá sem nós. – Ciro completou.

- E ficaremos sem a Gelatina de Carne Moída.
Isso sim é o que realmente importa.

- Ah, entendemos... – Mark prosseguiu – Muito bem, então... Zigzaa! Pegue algumas caixas na dispensa e traga até aqui!

Como pensei, era uma dispensa.

MAS QUE DIABO DE NOME É ESSE?!

- RDKs! Enquanto isso, por favor, assinem meus cartões e figurinhas!

- Eu também quero!

- Dionathan, faça um corte no meu pôster usando uma de suas espadas!!

- Ei, Ciro! Você pode arrumar o caixa da loja?

- Yuu? Yuu?! Cadê você Yuu?! Se mostre para nós!

Estou ficando sem ar! A multidão está se fechando ao nosso redor e... DESGRUDEM LOGO!

Movo as mãos e materializo uma espada no ar. Desgovernada, é arremessada para o outro lado da sala, mantendo a multidão ocupada enquanto brigavam pelo objeto.

- Qual o problema desses caras? - Ciro e eu retirávamos os trajes RG que estavam por cima de nossas roupas originais.

- Vocês são RDKs, o que mais poderiam esperar de Dark Merchants? – Mark continuara conosco. – É óbvio que vamos admirá-los até o fim de nossos dias.

E então, o silêncio supremo pairou sob nós três.

- O que? O que foi? – Mark surpreso.

- Dark... Merchants? – Eu e Ciro, em coral.

- Ahn?  Vocês nunca se encontraram com um Dark Merchant antes?!

Obviamente, nós nem mesmo sabemos.

Até agora, mais da metade das pessoas que conhecemos quiseram nos matar sem uma razão aparente, então, nem mesmo sabíamos ao certo o que enfrentávamos.

...

Tudo bem, alguns tem lá seus motivos para nos quererem mortos, mas são detalhes.

Mark se ajeitou em sua cadeira, respirou fundo e prosseguiu:

- Somos uma organização que dispõe de mercadorias e suprimentos dos mais variados tipos para aqueles que dominam os céus.

Em suma, para Sky Pirates como nós.

- Não podemos ficar presenteando vocês com itens gratuitos, mas garantimos um desconto gigante nas compras.

- E como conseguem preços tão baixos?  - peguei uma jarra de suco de laranja e aproveitei a conversa.

- Temos nossos contatos... Ou então roubamos.

- E isso não trás algum problema pra vocês? – Ciro.

- Não tanto. Já nos arriscamos o suficiente ajudando piratas todos os dias. O que é um roubo aqui ou ali se comparado a isto? Haha... E também, estas roupas ajudam a nos escondermos. E para evitarmos espiões, cada um carrega uma tatuagem do nosso símbolo.

Mark levantou a manga de sua veste e virou a barriga do braço para cima. Nela, a tatuagem de uma caveira com ossos cruzados, sustentada por uma asa branca e outra negra.

...

- Hm, Tio... É uma bela história, realmente legal o que vocês fazem, mas... Eu não tenho dinheiro e esse cara aí tem mais dívida do que jamais teve no bolso. 

- Não tem problema. Podem ficar, é cortesia da casa. Nós mesmos levamos até sua aeronave, afinal... Todo mundo aqui quer conhecer o resto da equipe pessoalmente.

De repente, a vida ficava mais fácil pra todos nós. Eu nunca imaginei que a fama pudesse facilitar tanto as coisas.

E foi então que um som de disparo ecoou por aquele cenário subterrâneo.

- Veio de fora.

Mark correu e trancou a porta pela qual entramos.

- Vamos pelos fundos, tem um corredor atrás da dispensa que leva para os portões da cidade! Peguem o máximo de mercadoria que puderem salvar e carreguem com vocês! – disse um de nossos aliados.
E de repente, todos os mercadores se movimentavam de um lado para o outro carregando caixas e outros artefatos e se dirigindo para a saída.

- Vocês se importam de nos darem carona até a próxima cidade? – Mark.

- É o mínimo que podemos fazer.  – Respondi.

- Então vamos!

Pegamos o que suportamos e atravessamos a porta em direção aos corredores. Eu seguia Ciro, que corria atrás dos outros mercadores. Por último, Mark. Ele resolveu tomar a última posição para trancar a porta e deixar uma granada incendiária pra eliminar o que pudesse ser usado contra eles como prova.

Não ficamos para observar o resultado, simplesmente corremos o máximo que pudemos.

*

Logo estávamos fora da área considerada como território dos Dark Merchants. Não havia sinal de nenhum soldado.

- Ei, eles estão ali!

Esqueçam o que eu disse.

- Corram como se fugissem de atiradores de elite, suas gazelas!! – um dos Merchants.

- MAS É EXATAMENTE DISSO QUE ESTAMOS FUGINDO!! – gritei

- PAREM DE GRITAR E APENAS CORRAM! – Ciro – Não, tudo bem se você gritar, Yuu.

- Qual é o problema desse cara?

Eu juro que não sei...

- Ei, vejam aquilo, um cara com um dragão! – um dos mercadores apontou. – Espera... Aquele é... Rodrigo?!

- Rodrigo! – Dissemos em coral, dessa vez, todos nós. “Ópera pura, sô.”

Rodrigo também era famoso entre os mercadores. Na real, acho que todos nós somos.

- Ciro? Dionathan? E... QUEM DIABOS SÃO TODAS ESSAS PESSOAS?!

- CALA A BOCA E CORRE!

E antes que o atropelássemos, ele nos imitou.

Descemos a ladeira correndo aos montes em direção ao porto onde estacionamos Izanagi, dobramos para a direita e cortamos caminho descendo entre as árvores enquanto alguns disparos passavam zunindo.

- Ei, vocês são RDKs, façam alguma coisa!

- Tipo o que?

- LUTEM!

- NÓS ESTIVEMOS FAZENDO ISSO O DIA TODO! ACHA QUE SOBROU ALGUMA ENERGIA?!

- Dêem um jeito!

- Ei, ei, por que VOCÊS não lutam no nosso lugar? - Ciro

- Somos mercadores, não Sky Pirates!

- Ahhhh!

Ciro passou a lança em uma das arvores e a derrubou atrás de nós.

- Qual a finalidade disso...?  - Rodrigo

- Atrasá-los. – fazendo Nice Guy Pose.

- IDIOTA!

- Ei, Rodrigo - gritei sem diminuir o passo - faz essa coisa voar, ou cuspir fogo, ou explodir. Sei la! 

- O que você acha que eu tenho nos meus braços?! É só um filhote.

Começamos a deslizar no barranco entre as árvores. Rodrigo me jogou seu dragão e virou o corpo disparando contra alguns dos soldados que nos seguiam com seu rifle. Pela quantia de gritos, ele deve ter atingido dois ou três

- Finalmente! – Os mercadores se animaram. – Mostra pra eles!

- Também estou ficando sem energia pra combate, não posso continuar disparando.

Joguei o dragão de volta para Rodrigo como se fosse  um casaco.

- Se pelo menos eu tivesse algum mecha por perto...

- Fale menos e corra mais, Cirrose!

É, eu realmente chamei ele disso.

- Isso não é hora para apelidos! Dionathan, você também pode atacar a distância. Faça algo! - Rodrigo

Girando as mãos, fiz uma espada raspar a cabeça de um dos mercadores por acidente.

- Deixa pra lá.

Ciro começou a correr mais rápido com os braços parados no ar, como se estivesse carregando alguém.

- Devemos perguntar...? – Indaguei para Rodrigo.

- Yuu não quer sujar os sapatos.

- Imaginamos.

Finalmente, atravessamos a pequena floresta. Felizmente, saímos direto no porto onde estacionamos a Highwhale.
Infelizmente, ela não estava mais lá. E agora, estamos cercados por algumas centenas de soldados de baixa patente, e sem uma pessoa capaz de agüentar o tranco contra todos. Uma situação um tanto quanto vergonhosa, eu diria.

Os soldados se aproximavam com um largo riso no rosto. Não havia para onde correr, atrás apenas um gigante penhasco. Pular é inviável, visto que estávamos em uma altitude superior a das nuvens.

Eu, Ciro e Rodrigo tomamos a frente. Invoquei uma espada bem instável. Rodrigo pegou suas duas pistolas e Ciro apontou sua lança para o grande exército.

Não podemos vencer, mas também não vamos recuar.

...

E foi então que em meio às árvores meia dúzia de marca-páginas saíram voando e atingindo a mesma quantidade de soldados, que foi gravemente ferida.

Se aproveitando da confusão do inimigo, a autora do golpe se revelou. Correndo entre os montes, golpeava o inimigo com um livro gigante em cada mão; o reforço havia chegado. Era Noilma.

Com o volume único de O Senhor dos Anéis na mão direita, e um dicionário Aurélio na esquerda, ela esmagava seus oponentes com facilidade.

E então, uma explosão em meio aos soldados semelhante a todas que presenciamos na cidade.

Agora faz sentido; não era uma bomba, mas sim um disparo de bazuca este tempo inteiro.

Olhei para cima enquanto Noilma pegava leve com o exército inimigo, que apesar de espancado, continuava se levantando.

Estava ali. Ela estava ali, bem acima de todos nós. Sua sombra cobria todo o campo de batalha e bloqueava o sol, anunciando a noite sobre nossos oponentes.

Flying Rogue: Izanagi's Highwhale.

Com todo seu esplendor, a cidade-ilha flutuava sobre nossas cabeças. E bem no topo da torre-shopping-center que ficava em seu centro, estava Andrew disparando com sua bazuca.

Agora sabemos o que destruiu todas aquelas casas e farmácias... Embora não o motivo.

E enquanto observávamos, o massacre a nosso favor prosseguia.
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