sábado, 24 de novembro de 2012

Capitulo 5 - Phantom Mayhem - Parte 2

Intermission: Lenarth

"Nunca me canso de ver o por do sol do alto do farol. Não importa o que aconteça, eu amo essa ilha. Foi por isso que voltei em primeiro lugar. Certo, provavelmente estou pulando partes da história. Então, vou começar do princípio. Meu nome é Lenarth. Sou um humano habitante de Manticore Island. 

Nossa ilha não aderiu ao sistema de globalização imposto pelo Royal Empire e seu exército, conhecido como Royal Guards. Por isso, somos automaticamente vistos como inimigos e considerados hostis, apesar de jamais termos interferido com oh-tão-grande-império deles. Mas, como não temos qualquer valor estratégico e praticamente vivemos da nossa própria ilha, eles provavelmente consideraram que não vale o tempo vir até aqui. 

Ah, droga, acabei desviando do assunto. Bom, voltando a ilha. Manticore foi dado como nome simplesmente por ser berço de centenas de animais dessa espécie todo ano. São animais perigosos, mas parecem não se incomodar com os habitantes da ilha. Todo ano na primavera eles vem para dar a luz a novos filhotes e vão embora no fim do verão. É um espetáculo e tanto se você quer saber. Nós que moramos na ilha temos um juramento de jamais interferir com o ciclo natural da espécie.

Como habitante dessa ilha, tenho muito interesse nesses animais, e também em magia. Muitos dos animais originais desse planeta conseguem usar algum tipo de magia. É tão natural para eles quanto respirar, sabem fazer desde que nascem. Nós humanos precisamos passar por muito trabalho para conseguir dominar algum tipo de magia e muitos jamais conseguem dominar qualquer habilidade. Por isso, quando descobri que tinha aptidão mágica, quis buscar um lugar que me ensinasse. O problema era a minha aptidão. O tipo de magia com que sou compatível é Necromancia. Um tipo de magia que é considerado proibido pelo Royal Empire. E por isso, não existe quase ninguém no mundo que ainda domine a técnica. Fora eu mesmo, conheci apenas dois. Meus professores. Viajei por dois anos de ilha a ilha para encontrá-los. E passei outros cinco anos estudando a magia com eles. Sinceramente, eu achava que por ser uma magia banida, deveria ser algo com que as pessoas não gostariam de lidar. Mas meus professores, Damião e Jolice me ensinaram que a Necromancia tem seus lados bons também. Graças a eles, ganhei confiança em minhas habilidades. Embora oficialmente ainda esconda meus poderes. Gostaria de falar mais sobre os dois, mas acho que isso ficará para outra hora…"

— Lenarth!

— Hum? O que foi Reinald?

Reinald é um jovem garoto de quinze ou dezesseis anos e é o verdadeiro operador desse farol. Como estou sempre aqui, acabo ajudando-o com o serviço e dando um pouco de descanso para ele. Pode parecer fácil, mas tomar conta desse farol sozinho é um feito e tanto. Principalmente depois que o pai dele morreu.

— Bom… eh? O que você está fazendo?

— Ah isso… hahaha… estou tentando começar um diário… pela vigésima vez…

Sinto que o animo na minha voz foi sumindo gradualmente. Realmente, já escrevi esse mesmo trecho tantas vezes que já sei de cor. Mas de alguma forma nunca parece ser bom o bastante e eu acabo descartando e começando de novo. Talvez devesse ter aproveitado minha viagem e ter procurado algum escritor que aceitasse aprendizes.

— Sinceramente, pelo menos deixe alguém ler antes de jogar fora dessa vez.

— Não, primeiro preciso conseguir um resultado satisfatório.

— É o que você diz, mas só a quantidade de folhas que você já gastou tentando começar esse livro, daria para fazer um livro por si só.

— Claro, e o título seria "As tentativas de Lenarth de começar um livro". Acho que não vai vender muito bem.

— Ah, não é disso que vim falar. Veja, parece ter um navio se aproximando do porto.

— Hein?

Olhei pela janela do farol. A parte da ilha em que o farol se encontra forma um "J". O farol está na ponta da perna menor, e o porto em si no final da perna maior. E obviamente estamos mais perto da cidade do que o porto. Como esse é o único lugar em que é seguro atracar ao redor da ilha, esse posicionamento permite que o operador do farol consiga chegar a cidade mais rápido do que o inimigo no caso de um ataque. Bom, ou essa era a intenção quando isso tudo foi construído, mas essa ilha não vê conflitos a pelo menos 100 anos.

Pela janela, vi um barco flutuando um pouco acima do nível da água. Um barco capaz de flutuar no ar? Embora não pareça ter estrutura suficiente para voar apropriadamente. Bom, tecnologia de voo é uma coisa um tanto recente, então não é tão surpreendente ver uma bizarrice como essa. Mas enfim, quem serão e o que estarão fazendo aqui?

— Já viu eles alguma vez, Reinald?

— Não, mas me lembra uma história que ouvi dos mercadores que vieram mês passado. Um grupo de Sky Pirates chamados Royal Dark Knights.

— "Royal" Dark Knights? Então eles estão com o Royal Empire?

— Não, pelo contrário. Parece que usam o nome Royal apenas para irritá-los, embora essa razão jamais tenha sido confirmada. São inimigos declarados dos Royal Guards e ouvi falar que nunca perderam uma luta para eles.

Agora isso é uma coisa que não se ouve todo dia. Mas o inimigo do nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo. E eles são piratas, podem ser apenas um bando de bandidos que não se importa aonde roubar. Preciso confirmar as intenções deles.

— Reinald, vá para a cidade e avise o prefeito.

— Eh? Mas… você acha que é preciso?

— Não sei, mas melhor garantir. Vou tentar confirmar a intenção deles. Se tiverem vindo em paz, os acompanharei até a cidade. Se não, tentarei chegar primeiro e avisar a todos. Mas por via das dúvidas, se eu não estiver com eles quando chegarem a cidade, os tratem como inimigos.

— Certo.

Reinald correu para as escadas e começou a desce-las com impressionante agilidade. Bom, ele vive nesse farol desde que foi trazido para a ilha. Pensei em usar as escadas também, mas pensando duas vezes. Não tenho paciência para isso, e estamos na temporada de Manticores afinal de contas. Simplesmente subi mais um andar que leva ao topo do farol. A vista daqui é um pouco melhor, mas Reinald sempre reclama que pessoas não autorizadas não são permitidas aqui. Bom, é o trabalho dele. Como necromante, posso invocar e controlar demônios e espíritos malignos. Isso normalmente não me salvaria de uma queda de onze andares se eu fosse cair daqui. 

De qualquer forma, Mantícores são seres alados. E eles não vem a essa ilha apenas reproduzir. Como muitas espécies de animais, muitos lutam para conseguir acasalar e alguns morrem no processo. Isso faz com que o espírito dessas criaturas morram carregando ressentimentos. Como necromante, também posso induzir um "tratamento" a essas almas. Esse é o lado bom da necromancia sobre o qual tinha escrito. Nesse quesito, sou um pouco parecido com um espiritualista ou um xamã. Mas a parte toda do invocar e controlar espíritos malignos não costuma ser bem vista. Sem falar que almas por si só são inofensivas (na maior parte do tempo) preciso criar um corpo para eles usando restos de outros corpos e isso não costuma ser muito bonito. Droga, acabei me perdendo no assunto de novo. Resumindo, enquanto não consigo acalmar o espírito dos Manticores corretamente, posso controlá-los. Ainda estamos em pleno verão, então muitos corpos ainda estão em bons estados, assim posso passar por um mero controlador de feras, já que não posso simplesmente revelar que sou um Necromante.

Poucos instantes se passaram e um Manticore pousou próximo a mim. O corpo está um pouco ferido, mas nada aparente, o corpo provavelmente morreu de velhice ou simples doença. Mas a alma dentro está claramente enfurecida. Se tivesse tempo, eu gostaria de passar mais tempo cuidando desse espírito.

— Sei que você está irritado. Sei que tem arrependimentos. E ser controlado dessa forma deve ser frustrante. Mas preciso que você me ajude, e em troca, definitivamente o ajudarei depois.

Ele provavelmente não entende minha língua, mas ouvi falar que esses animais conseguem entender as intenções por trás das palavras. Espero que esse seja o caso. A longa causa de escorpião ligada ao corpo do felino se desenrolou, e ele abriu as asas de forma a deixar as costas expostas. Montei no animal aproveitando para sentir a rigidez do corpo. Não parece ter morrido a muito tempo, realmente. A alma não precisa ser necessáriamente a original que existia no corpo anteriormente, posso aplicar qualquer alma em qualquer corpo desabitado. Mas dessa vez parece ter sido uma coincidência, já que a alma está respondendo bem de mais ao corpo para não ter conexão. E eu fiz a magia aleatoriamente. Deve ser meu dia de sorte.

Desperdiçando um último olhar para o por do sol, pensei nos habitantes da cidade. Eu realmente amo essa ilha, e as pessoas que moram nela. Não importa quem sejam esses visitantes, se tiverem más intenções, não os deixarei passar não importa o custo. Espero que realmente seja meu dia de sorte e que não precise forçar esse animal já perturbado a lutar. As asas do animal começaram a bater. Senti um pouco de mágica fluindo no ar. O corpo deles simplesmente não poderia voar sem a assistência de mágica, são muito grandes para o tamanho das asas, e ele é capaz de invocar essa magia mesmo após a morte. A cauda que possui um veneno poderoso abaixou ainda mais para não me ferir. E assim o animal partiu em direção ao porto. Só espero que esse não seja um encontro ruim.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Capitulo 5 - Phantom Mayhem - Parte 1



Intermission: Ciro


Dois dias se passaram desde que o Rodrigo perguntou sobre a Yuu para a Heike. Hell, que insensível da parte dele. Ele ficou enfermo, justamente quando uma outra ilha foi avistada no curso da Izanagi, que diminuía a sua velocidade. Não sei se ela sentiu nossa necessidade de reabastecer o shopping, mas veio em boa hora. 
Todos nós nos reunimos no salão principal para discutir quem iria descer até a ilha. Como o Rodrigo está doente, teremos que procurar por uma farmácia de novo.

- Quero recompensar pela hospitalidade de vocês, me deixem descer no lugar do Rodrigo! - Disse o garoto-raposa Yah enquanto se curvava para nós, respeitosamente.

- No problem. Contanto que ele não volte com pulgas - Replicou Andrew.

- Quando que as piadinhas vão acabar?

- I don't know... quando você começa a trocar de pelo para aguentar o inverno?

- Foco! - Disse o Dionathan - Eu, Ciro e Mogli (Yah) desceremos. Mais algum candidato?

E então a Noilma tirou os olhos de seus infames mangás de boylove e levantou sua mão.

- Quero procurar a Weekly Shounen Jump da semana, posso ir com vocês?

- Com isso temos nosso grupo de 2 pervertidos, um animal e eu.

-Pera pera pera aí! - Uma voz veio do fundo e uma garota que não me lembro de ter visto antes aparece - Nonoi, posso ir no seu lugar? Quero dar uma pesquisada para escrever meu próximo conto!

 Todos olhamos para a garota que havia acabado de chegar. Aparentemente ninguém lembrava dela, mas então a Heike falou:

- Gente, essa é a Lucy. Ela já é uma RDK há um tempo mas para poder usar suas magias ela adquiriu uma maldição que faz ela ser esquecida assim que ela sai do campo de visão de alguém! 

- Como assim, explique o porquê de você e só você se lembrar dela. - Interveio o Yah.

- Eu sou um dragão, oras.

Isso não explica muita coisa... O Dionathan ouviu tudo, mas por algum motivo ele parecia distante e ignorando a estranheza do que acabará de acontecer.

- Ok então, você vem conosco. Heike, já que você é a única que consegue lembrar dela você devia vir. Tem algum problema?

- Contanto que eu fique longe do Ciro, acho que o Rodrigo não vai se importar.

- Ciro, já terminou de trabalhar no sistema de voo do navio?

Não vai me dar tempo pra responder? What the fuck Dio.

- Você quer que eu termine um sistema tão complicado como esse em menos de uma semana? Infelizmente pra você eu nem tenho onde conseguir os materiais pra isso. A menos que desçamos e saiamos do shopping eu não vou conseguir metal nenhum pra começar a implementar ativamente o sistema de voo do navio. Ou será que deveria chamá-lo de Navião? Hein hein, o que acham?

Um segundo de silêncio foi o suficiente para eu perceber a droga de trocadilho que eu fiz. Como esperado de meu grande amigo Andrew, ele quebrou o silêncio com um tom de surpreso.

- Olhando pelas câmeras, achei um navio atracado no porto da cidade. 

- Isso não seria normal? - Perguntou a Noilma - Lógico que haveria navios no porto.

- Com uma observação mais detalhada, poderá notar que esse navio tem um sistema de impulsão semelhante ao nosso e por algum motivo há asas nele! 

Isso foi o suficiente para me animar. Quero procurar o engenheiro daquele navio!

- Mas há algo de estranho nessa ilha... apesar do porto grande, só há um navio e não há movimentação ali. - O Dionathan apontava para uma área destinada a estocagem de containers, a qual estava vazia. Seus dedos tremiam um pouco e eu tinha um palpite do motivo, mas preferi deixar quieto. - De qualquer maneira, nós precisamos descer.  Andrew, não faça nada de estranho com a Nathy só porque ela gosta de correr seminua pelo shopping hein!

Andrew soltou o típico olhar dele de whatefuck. 

- Ok então, vamos logo.

Entramos no nosso navio. Para ele ir do shopping ao mar ele usava um sistema de propulsão e seu formato permitia que de certa forma ele planasse e pousasse em segurança apesar de tudo.
Chegamos nessa ilha. Ela até o momento parece ser a maior em extensão que já visitamos, porém ela parecia uma ilha fantasma. Só podíamos avistar o navio parecido com o nosso e uma estranha névoa começou a emergir assim que chegamos. A vista ficava muito dificil, o que seria difícil pra nós ainda mais com a Lucie a nosso lado. Apesar de tudo que precisávamos fazer, eu tinha outras prioridades.

- Galera, eu vou ficar pra trás. Vou ver se acho chapas de metal ou qualquer coisa que possamos usar no navio. - Claro que esse não é meu único motivo, mas eles não entederiam o motivo de eu querer encontrar o engenheiro do outro navio. - Além disso fica mais fácil pra cuidar dele, afinal não teria nenhuma testemunha se quisessem o roubar.

O Dionathan olhou pra baixo e ponderou. Seu punho estava fechado e tremia ligeiramente, aparentemente havia algo de errado com ele. Mas ele não falaria conosco o que o aflige, ele não gosta de ser ajudado. Complexo de líder que acha que só ele deve ser capaz de ajudar e que consegue fazer tudo sozinho. Depois de um tempo ele respondeu:

- Acho que com o Yah conosco, poderemos nos cuidar apesar de tudo. Se algo de estranho acontecer, volte imediatamente para o navio e nos espere lá. Ok minna-san, let's go!

E assim eles partiram.



Intermission: ???

Me foi dado uma missão. Eu, como uma mercenária de elite, normalmente não aceito trabalho vindas do governo visto que normalmente são membros de sua elite que eu mato mas esse trabalho me parecia interessante.

Já lidei com várias pessoas e nativos desse planeta e sempre quis enfrentar algo a mais. Normalmente eu apenas assassino e saio escondida na mãe noite, sem nenhuma emoção. Já faço isso há tanto tempo que pode-se dizer que virou uma rotina. Pesquiso sobre a vítima, persigo ela até aprender sua rotina e assim que for oportuno eu a assassino e fujo o mais rápido possível para outra ilha. O fato do governo não ser centralizado me ajuda bastante.

Mas dessa vez meu alvo é um grupo de desordeiros fortes. Assim como eu, eles normalmente arranjam briga com o governo, porém eles lutam em batalhas diretas. Qual é o motivo deles? Espero que não sejam meros piratas comuns. 

Segui a ilha voadora deles e depois de um tempo finalmente eles desceram, provavelmente pra comprar mantimentos. Acelerei e cheguei antes na ilha, podendo armar as armadilhas com antecedência. Usando minha magia de água, criei uma intensa névoa. Não que fosse difícil, essa área tem um distúrbio espiritual muito grande do qual me aproveitei. 

Me foi pedido para os eliminar, mas não precisaria ter muita pressa. Parei então para ponderar sobre as informações que me foram dadas.

Aparentemente o líder se chama Dionathan, o qual tem um poder estranho de invocar armas do nada. Também teríamos que enfrentar o Rodrigo, um atirador profissional com poderes em magia branca. E por último Ciro, o engenheiro do time. Apesar de terem mais membros, o resto não se envolve muito em lutas aparentemente. Dentre os três que já vi lutar, preferiria enfrentar o Ciro. Rodrigo tem uma maior mobilidade nas lutas e se adapta bem à condições adversas, o Dionathan possui vários estilos de luta com armas diferentes então ele poderia me dar trabalho enquanto Ciro, mesmo que seja o com maior força bruta, costuma lutar somente com uma lança, o que me daria vantagem visto que minhas armas tem maior alcance. Contanto que eu não o enfrente em um combate direto, tenho certeza que poderei o derrotar.

Estranhamente, do navio não saiu o Rodrigo e sim um rapaz que parecia muito com uma quimera, uma garotinha e uma garota desorganizada. Ciro e Dionathan estavam juntos, logicamente. Eles discutiram um pouco e Ciro ficou pra trás, no navio.

Isso vai facilitar muito as coisas para mim.

Intermission: Ciro.

Continuei andando entre os containers. Felizmente o fato de eu ser um dragão, assim como a Heike, me dava uma força sobre-humana que era necessária para eu abrir os galpões e os containers sem dificuldade. A maioria deles parecia que não era tocada por muito tempo.

O clima começou a resfriar, o que realmente não era um problema pra mim. A névoa engrossava e minha visão piorava, mas felizmente minha audição me permitiu ouvir que alguém se aproximava. Aparentemente, vieram a trás de minha cabeça.

sábado, 17 de novembro de 2012

Capítulo 4 - Situação Cabeluda - Parte 3 - FINAL


Intermission: Rodrigo

Um revolver, hein? Por algum motivo a Heike começou a se interessar por armas ultimamente. Alguns dias atrás ela me viu praticando e pediu para tentar. Me pergunto se isso significa que ela vai querer nos ajudar em combate. Eu sei que quando “adotei” ela, queria um dragão para poder usar em batalha. Mas ela passa tanto tempo em forma humana que já não consigo mais ligar a imagem dela a um réptil alado.

— Por que um revólver? Uma pistola pequena não seria melhor?

— Revolveres são mais legais.

Não, você não escolhe uma arma pela que parece mais legal… Bom, de qualquer forma…
Olhei por cima do meu ombro para tentar ver o Ciro. Droga, ele está olhando para cá, será que ele ouviu toda a conversa? Ele parece irritado, não estou afim de lidar com isso agora…

— Vamos falar sobre isso depois, certo?

— Ciroooo!

— Argh! Ta bom, eu compro, eu compro, apenas fique quieta, ok?

— Obrigada! — ela abriu um largo sorriso.

Com o assunto terminado, resolvi fugir o mais rápido o possível do lugar. Afinal, por que estou fugindo? A cobertura é meu território, eles é que estão invadindo e deveriam ser chutados. Argh, não estou com saco para uma briga… e ok, não quero que o Ryu fique soltando pelos nos andares internos. Olhei para trás antes de abrir a porta, esperando ver a Heike voltando a brincar com a Yuu ou algo do tipo, mas para minha surpresa ela está atrás de mim… Tanto faz, abri a porta e desci para um dos andares vazios. A Noilma não deve estar usando os cinemas nesse momento, talvez seja seguro tirar uma soneca por lá, mesmo que Andrew costume passar o tempo naquele lugar. Afinal, o andar dos jogos e o do cinema é o mesmo. A Heike ainda está atrás de mim, ela não tem nada melhor para fazer? Bom, normalmente ela fica brincando com a Yuu ou com a Nathy ou aprendendo coisas assustadoras com a Noilma… acho que todas estão ocupadas agora, huh. Ela provavelmente está entediada e está procurando alguma forma de se entreter… e eu provavelmente serei a vítima. Sem pensar duas vezes, comecei a correr.

— Ah!

Sei que ela aumentou a velocidade, mas ainda não consigo ouvir os passos dela. O andar de jogos/cinema  tem várias bifurcações ao longo do caminho. Dito isso, não é como se tivesse espaço para fugir dela, mas ainda tenho a vantagem, conheço os melhores lugares para me esconder. Olhei para trás, parece que despistei ela por enquanto, vou usar essa chance para me esconder.

— Ei, por que você começou a correr?

Ou foi o que eu pensei. Por algum motivo, a Heike está atrás de mim. Com um suspiro, me virei e olhei para ela.

— Porque não tenho nada melhor para fazer. E você, como chegou atrás de mim tão rápido?

— Eu me transformei e vim voando.

Mas ela está em forma humana.

— E aquele negócio de não poder se transformar antes de cinco minutos?

— Eu inventei aquilo.

Tentei me lembrar da situação em que ela me contou isso. Naquela época ela tinha pouco mais de uma semana, mas já era inteligente o bastante para entender linguagem complexa e provavelmente estava bem ciente do que estava acontecendo ao seu redor. E mais, se ela tivesse se transformado aquela hora, eu não teria que ouvir a Noilma me chamando de pedófilo toda vez que estou perto da Heike. É claro, eu contaria para eles eventualmente que ela pode virar humana, não ia querer excluí-la do grupo. Mas da forma como aconteceu, ficou parecendo que eu sabia desde o começo e estava escondendo. Ela provavelmente sabia os problemas que causaria ao não se transformar naquela hora… resumindo, ela fez de propósito para me incomodar.


Espiei-a pelo canto do olho, ela provavelmente sabe o que eu estou pensando, já que está rindo e mostrando a língua para mim. Devo espancá-la? É justificável certo? Eu tenho todo o direito de usar violência numa hora como essas. Sou quase como o pai dela, sim, é meu dever concertar essa personalidade problemática dela.

— Então, o que você quer?

No final, não consigo fazer isso. Peço perdão a todos que tiverem que lidar com ela no futuro, mas não consigo discipliná-la dessa forma.

— A Noilma está ocupada, a Nathy está de ressaca e a Yuu quer ficar com o Ciro hoje, então não tenho ninguém com quem brincar.

— Então, eu sou a próxima escolha, hein.

— Sim, sim, afinal de contas, você que me adotou para ser seu pet, precisa cumprir com as suas responsabilidades.

Nunca ouvi falar de um pet que faz exigências e ameaças ao dono. E não venha com essa história de pet só quando é conveniente para você!!

Bom, não é como se eu tivesse algo melhor para fazer… Normalmente eu não me importaria em passar algum tempo com ela. Mas… como eu pensei… ainda não consigo tirar da cabeça o que aconteceu naquela ilha. E não quero que ela ou alguém perceba, então prefiro ficar sozinho até conseguir me esquecer daquilo. 
Era por isso que eu estava na cobertura para começo de conversa, por que tinham que invadir minha área?

— Desculpe Heike, veja se o Dionathan ou o Ryu querem brincar com você. Mas cuidado com o Ryu, não sabemos se o pelo dele é anti-alérgico.

— Humm… tudo bem.

Ela se virou e foi em outra direção. No final das contas ela é bem compreensiva, hã. Bom, eu ia descansar no cinema, mas agora que já estou aqui vou para a nossa área de recreação que apareceu misteriosamente a algumas semanas.




Então, estou deitado — jogado — em um dos sofás, apenas deixando o tempo passar tranquilamente…

— Mas eu estava pensando, se o recuo da arma é forte de mais para se controlar normalmente, por que eles adicionam a função “Fully Automatic”?

— Quem sabe…

— Afinal, não é estranho? Não é como se alguém conseguisse acertar alguma coisa depois do primeiro tiro. 
E quando é preciso dar cobertura, a função “Bust Shot” não é muito mais eficiente? Tudo bem que seria preciso apertar o gatilho várias vezes, mas em compensação os tiros teriam muito mais precisão.

— Talvez…

— Ah, claro, não estou falando de metralhadoras montadas, entendo que em alguns casos a situação realmente pede fogo rápido. Mas um fuzil com essa função está apenas desperdiçando balas, você não acha?

— …

— Hein?

— Heike…

— O que foi?

— Por que você ainda está aqui?

— Porque estou entediada.

— Eu não disse para você ir brincar com o Dionathan ou o Ryu?

— O Ryu ainda está soltando pelos, não consigo ficar por perto nem um minuto sem espirrar. E o Dionathan começa a chorar e se lamentar por causa do cabelo toda vez que eu chego perto.

— Por causa do cabelo?

— Bom, eu e a Nathy tentamos dar uma melhorada no cabelo dele outro dia… Não deu muito certo… Mas juro que tínhamos boas intenções.

Quando isso aconteceu? Bom, o cabelo do Dionathan está sempre terrível, não importa o que elas tenham feito não pode ter ficado pior do que já estava… Espere, não é esse o problema.

— Heike, eu sei que você está entediada, mas você não pode ir apenas ler um livro ou assistir algum dos filmes da Noilma?

— Mas faz tempo que não conversamos, você parece estar evitando todo mundo desde que voltou daquela ilha. Fazem dias que não vejo você trocar mais do que duas frases com alguém.

Não tenho como negar isso, já que é a verdade. Provavelmente estou fazendo mais drama do que devia sobre isso tudo. Eu sinto que perdi completamente um enorme trecho da minha memória, apesar disso não fazer qualquer sentido, já que o tempo que sinto ter perdido é grande de mais para alguém não ter notado… A última vez que senti isso foi… sim, quando pensei em ir para um dos andares inferiores desse shopping. Desde então, sinto que não devo mais ir até lá. Mais do que isso, sinto que não devo ir não importa com, inconscientemente eu evito sequer pensar sobre isso. Meus olhos se acostumaram a virar automaticamente na outra direção sempre que sequer passo perto da escada de emergência que leva ao andar de baixo. Sim, alguma coisa aconteceu naquela ilha. Alguma coisa relacionada a Izanagi. Algo importante, mas que eu perdi completamente e não sei mais o que era. É como ter um quebra cabeças para montar, mas faltam várias peças e toda vez que você encontra uma outra desaparece. E ainda por cima… tem aquele bilhete. Não consigo entender o significado daquilo, mas o tenho guardado em minha gaveta até hoje. Talvez encontrar o remetente daquela carta possa esclarecer alguma coisa. Mas só tem um nome, e “Doppelganger”. Se for mesmo um doppelganger, procurar por um nome ou mesmo um rosto não resultará em nada. Agora que penso nisso, a Heike também é capaz de se transformar…

— …Bom, acho que podemos conversar. Mas quero fazer algumas perguntas.

— Isso é uma chantagem?

— NÃO QUERO OUVIR ISSO DE VOCÊ!

— Hai, hai.

— Como funciona sua transformação?

— Hein? Por que está interessado nisso agora?

— Não se preocupe com os detalhes, apenas fale.

Ela deixou escapar um suspiro, mas respondeu mesmo assim.

— Na verdade é bem simples, eu posso me transformar em algo desde que o volume seja igual ao meu corpo original. Mas não tenho tanta liberdade de escolha. Para começo de conversa, só posso me transformar em outras espécies de animais, não posso virar plantas ou fingir ser uma pedra. E a variedade é bem limitada. No momento só posso me transformar em humana.

— Entendo, então não é como um doppelganger.

— Doppelganger? Hum, acho que lembro de ter lido sobre isso em um dos livros da Lucie. Eles são humanos que conseguem assumir a forma de outros humanos, não?

— Sim, não tem muita relação, certo?

— Pelo que eu li, eles podem se transformar a vontade. Mas diferente do meu caso, em que uso magia para me transformar, eles se transformam manipulando o formato dos ossos e as tonalidades de seu corpo. Também podem fazer unhas, dentes e cabelo crescerem e caírem a vontade. Parece meio nojento.

— Realmente….

— Então, eu respondi suas perguntas. Agora me ensine algo sobre armas.

— Não tenho escolha, hein… Bom, você gosta de livros, certo? Acho que posso te mostrar algumas coisas no…

Espere, não tem algo estranho nisso que acabamos de falar. Livros… de quem ela disse que era o livro que ela leu?

— Hum? “Algumas coisas no…”?

— Heike… Você disse que leu sobre Doppelgangers em um dos livros de quem?…

Ela me encarou por alguns instantes, mas aos poucos os olhos dela começaram a se arregalar. Acho que meu rosto deve estar passando pela mesma mudança agora.

— LUCIE! — dissemos juntos.




Corremos pelos corredores do antepenúltimo andar antes da cobertura. Esse shopping é enorme, não só em número de andares, mas também em largura. Cada andar da facilmente o tamanho de um quarteirão na cidade. Existem dezenas de lojas desativadas. Nosso rumo é uma das lojas que quase não passamos pela frente. Uma papelaria. Os livros que estavam na livraria, nesse mesmo andar, estão todos em uma língua indecifrável  Mas a estrutura da livrarias pode ser usada, e acabamos usando elas para guardar nossos livros e outras coisas relacionadas a escrita. Então quase nunca precisamos passar por esse corredor que só tem uma papelaria, e uma farmácia. Afinal de contas, idiotas não ficam doentes. E mesmo que ficássemos, não conseguimos entender as instruções dos remédios que estão aqui. Mas tem alguém que sabemos que passa bastante tempo na papelaria, usando os materiais que tem aqui para escrever.

Abrimos a porta que está destrancada.

— Lucie? — chamei em voz alta.

— Será que ela ainda está aqui?

— Onde mais ela estaria?

Posso dizer isso, mas não faço idéia se ela realmente está aqui. Hell, ela poderia ter desaparecido e não teríamos notado a tempo. Estou começando a ficar preocupado.

— LUCIE?!

Heike correu para os fundos e acendeu um interruptor.

— Ouço alguma coisa vinda do depósito.

Como esperado de um dragão, ela pode ouvir muito bem, mesmo através de paredes. Fomos para a porta dos fundos da loja onde provavelmente ficavam os estoques desorganizados, longe dos olhos do público. O local está completamente escuro. Até a Heike parece estar com problemas para enxergar. Por algum motivo a porta se fechou atrás de nós sozinha, assim que entramos. Completamente escuro… apenas uma fraca luz pode ser vista a distância… quão grande pode ser o depósito de uma papelaria? Nos aproximamos da luz lentamente. Não consigo ouvir os passos da Heike, mas sei que ela está do meu lado por causa do cabelo dela balançando e tocando meu braço a cada alguns passos. Não está meio frio aqui?

Conforme nos aproximamos da fraca luz, conseguimos distinguir uma cadeira de costas para nós e uma escrivaninha na frente dela.

— Lucie? — Heike sussurrou.

— …Heike-chan, a quanto tempo.

Deixei escapar um suspiro de alívio. Ela está aqui.

— Hum? Esse suspiro longo e desinteressado… Rodrigo?

— Err… oi…

Você pode confirmar facilmente se virar a cadeira, sabia?

— A quanto tempo não recebo tantas visitas assim… dois… três anos?

— Hãn… tenho certeza que vim com o Dionathan ou com o Ciro aqui algumas vezes.

E não vivemos aqui a tanto tempo, sabia?

— Lucie, você está bem? — Heike deu um passo a frente.

— Heike-chan, você sempre faz essa pergunta quando vem me ver. Não tem nada mais para falar.
Os olhos da Heike se arregalaram claramente, mesmo com a luz fraca, mas logo sua expressão mudou para uma de entendimento.

— …É verdade… eu sempre pergunto isso… haha…

Acalme-se Heike.

— Errrm… Lucie, você não acha que devia tomar um pouco de sol? Está um dia lindo lá fora…

— Rodrigo, você também diz isso toda vez que vem aqui. Mesmo que você só fique na cobertura para ficar longe dos outros. Eu sei o que você vai dizer a seguir, “você devia interagir mais com os outros”, mas você mesmo se distância dos outros mais do que qualquer um. E não precisa começar cada fala com uma onomatopéia, isso tira minha concentração.

— Ela tem razão, sabe.

Não concorde com ela, Heike!

— Ugh…

— Onomatopéia.

— … Eu sei que não tenho o direito de falar nada, ok? Mas sua condição é diferente… ahn…

O que era mesmo?

— Ah, minha condição. Sim, é verdade. Eu tenho uma maldição que me faz ser esquecida. Assim que você sair daqui, se esquecerá que eu sequer existo em alguns minutos. Me tornarei um vulto em sua mente, como um personagem secundário de um livro que você leu a muito tempo. Certamente algo aconteceu para vocês terem lembrado de que eu existo. Me diga, do que vocês estavam falando?

— Ah, estávamos falando sobre um de seus livros que fala sobre Doppelgangers – Heike respondeu em meu lugar.

— Então era sobre um dos meus livros, hein.

— Ahm…

— Onomatopéia.

— …Enfim, você deveria pelo menos ficar a vista… sabe… é estranho, quando acabamos nos lembrando de você, é meio perturbador…

— Ficar a vista… impossível.

Ela finalmente se virou. Posso ver olheiras enormes em seu rosto.

— Esse livro não irá se escrever sozinho! E aqui é o único lugar silencioso o bastante para eu conseguir me concentrar. E ainda por cima tem material o suficiente espalhado por todos os cantos. Ou você acha que posso me dar ao luxo de diminuir o ritmo? Você por acaso conhece o meu editor? Ele é um cara extremamente organizado, vive com tudo anotado em sua agenda, e toda vez que ele vê sua anotação falando sobre o meu próximo livro, ele usa uma magia de comunicação a longa distância para me chamar… sim… toda vez que ele vê aquela maldita anotação… ELE ESQUECE QUE JÁ FALOU COMIGO VINTE VEZES NO MESMO DIA E LIGA DE NOVO! Faz ideia da pressão que estou sentindo?

Ok, essa maldição sua pode ser bem inconveniente para você também, hein. Ok… acho que não tenho muito o que dizer aqui… Agora que penso nisso, eu realmente costumava ver ela com mais frequencia a alguns meses atrás. Acho que ela precisou se isolar para poder escrever o livro… Droga, já estou com problemas por sentir que algo foi tirado da minha memória a força. Mas só consigo me lembrar das informações relevantes a ela em pedaços, isso é confuso… Que maldição inconveniente.

— De qualquer forma… Você não acha que devia tirar um dia de folga? Que tal isso, todos estão na cobertura hoje, podíamos abrir a piscina. Se você relaxar um pouco conseguirá ter idéias melhores, certo?

— É uma boa idéia, vamos Lucie! — isso Heike, fique do meu lado pelo menos uma vez.

— Um dia de folga, hein? — um sorriso malicioso se formou no rosto dela, estou com uma premonição ruim. — É verdade, estou precisando me entreter um pouco. Mas com uma condição.
Lá vem. Engoli minha saliva:

— Pode dizer.

— Você tem que ler um dos meus contos.

Certo, parece razoável. Ela aumentou a intensidade da luz em sua escrivaninha e me entregou uma folha de papel avulsa. Peguei ela e olhei para o canto superior da página contendo algumas informações, como título, número de palavras, idade recomendada — 18 anos por alguma razão — e o gênero…
Olhei para ela com os olhos arregalados, ela não pode estar…

— Leia.

Ok, ela está falando sério… mas a área do gênero diz “Boys Love – Lemon”… ela realmente espera que eu leia isso? Ela ainda está me encarando com aquele olhar malicioso… droga, era isso que ela queria dizer quando falou que precisava se entreter um pouco? Heike também está me encarando com um olhar presunçoso no rosto, droga, de que lado você está!? Tudo bem, só preciso acabar com isso rápido, farei uma leitura por cima, me concentrando apenas em alguns pontos, o bastante para responder algumas perguntas caso ela queira confirmação… certo, não serei derrotado por isso!

— Em voz alta!

SEU DEMÔNIO!

Tentei engolir minha saliva novamente, mas dessa vez minha boca estava seca e minha garganta fez um som estranho revelando minha ansiedade.

Ok, não vou ser derrotado por isso. Certo, isso torna tudo mais fácil, só preciso desligar minha mente e deixar minha garganta agir sozinha. Claro, ignore, seu corpo e sua mente não são uma coisa só, concentre-se Rodrigo! Não deixe sua mente ser influenciada pelo que seus olhos estão vendo! Sim, é isso, acho que estou lendo alguma coisa, mas não sei o que é… ouço minha voz, mas não entendo nada, tudo o que consigo pensar são lolis! Lolis! Goth-loli! Maid loli! China-dress loli! Ok, algo está atrapalhando minha concentração, o que a Lucie está fazendo? Vejo algum tipo de energia se concentrando ao redor dela. As palavras do apocalipse continuam saindo de minha boca, mas não sei o que elas significam, ótimo, está acabando. Mas a Lucie está usando algum tipo de magia? Falando nisso, qual era mesmo o poder dela? Algo sobre… ah sim, a maldição dela faz parte disso. Certo, ser esquecida constantemente é uma das condições para poder usar a magia dela, algo sobre dar vida a personagens fictícios. Sim… espere, como ela fazia isso? Ela pode invocar quase qualquer coisa que ela escrever em papel, desde que obedeça as leis desse mundo. Mas quanto maior for a invocação, mais poder mágico é consumido. E quando ela não tem mais poder mágico para sustentar suas criações, todas elas somem… Parece bem útil, mas por que ela está usando isso? Espere, como ela fazia a invocação? Ela não carregava um livro para ler trechos do que ela mesma escreveu em combate?

O texto acabou, consegui ler tudo sem entender nada, exatamente como ler um jornal de esportes! Mas… acabo de lembrar de algo… não é necessário que ela faça a leitura para fazer a invocação… Droga, por que eu continuo me lembrando das coisas só quando é tarde de mais?!

— Nos invocou, mestre?

Uma voz masculina surgiu de algum lugar, o que fez minha espinha congelar. Como se um não fosse ruim o bastante.

— Quais são os seus desejos?

Merda, isso é ruim. Encarei a Lucie que a essa altura está a beira de cair em gargalhadas.

— Você armou uma armadilha para mim!

— Sim, mas veja, a expressão em seu rosto agora é digna de uma moldura. Hahahahahaha!
Ouço passos se aproximando, isso não é bom, nem um pouco bom.

— Desfaça eles!

— Não, mas não se preocupe. Como você leu o texto, eles estão se alimentando da sua força mágica. Com o que você tem, não deve conseguir suportar os dois por mais do que dois ou três minutos.
Muito reconfortante, quando não sei se vou sequer sobreviver dois ou três segundos!

— Boa sorte, Rodrigo! — obrigado pela ironia, Heike.

— Sua… de que lado você está, sua protótipo de dragão mal desenvolvido!?

Ah, ela realmente está parando para pensar no assunto.

— Do lado mais divertido?

— NÃO ME PERGUNTE!

— Mestreee…

Isso é ruim, não tenho tempo para discutir com elas, preciso correr pela minha vida!




Por meus olhos entreabertos, só consigo ver um teto cinza. Estou deitado, em algo duro, talvez no chão. Já não sei mais da minha situação, o que acontece ao meu redor dificilmente é registrado pela minha mente. Ouço vozes vindas de longe, ou talvez de perto. Já não sei mais…

— Ele vai ficar bem?

… Pare de me cutucar.

— Vai sim, ele apenas está cansado por causa do esforço que fez e por ter esgotado a capacidade mágica dele. Deixe-o ai, logo ele acorda.

— Entendo. Ei Lucie, não sabia que você escrevia esse tipo de história.

— Não normalmente, foi a Noilma que me pediu para escrever algo para ela. Foi ela que me deu essa ideia  mas não achei que teria uma chance de usá-la realmente. Mas foi incrível, nunca vi alguém correr tão rápido.

— Hahaha, ei, por que não vamos para a piscina agora?

— Hum, bom, não pode ser ruim uma folga de vez em quando.

Os teto cinza repentinamente ficou escuro, tudo ficou escuro.

— Durma bem, Rodrigo!

E então todas as presenças que eu sentia desapareceram. Não há mais nada, apenas o vazio. Ah, entendo, era isso. No final das contas, existem coisas que é melhor não saber. Sim, isso está certo. O mesmo vale para o que estava me incomodando. Posso ter perdido minhas memórias, mas talvez eu não devesse saber daquilo para começo de conversa. Talvez seja cedo de mais. Esquecer nem sempre é uma coisa ruim… Pode parecer que estou fugindo, mas se não posso fazer nada quanto a isso, esquecer pode ser o primeiro passo para seguir em frente. Haha, que irônico, perceber isso em uma situação como essa… Ah, está ficando difícil manter minha consciência. Acho que está na hora. É frustrante morrer dessa forma. Mas pelo menos, eu terei uma vingança parcial. Afinal, eu menti quando disse que o tempo estava bom. Na verdade tem um temporal se aproximando. Muahahaha, que tal? Pode não ser muito, mas essa é minha última maldição! Seu dia na piscina não será cheio de sol e alegria! Será cheio de pelos soltos e trovões! Com um pequeno senso de vitória, deixei minha consciência desaparecer…

Chapter End


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Capítulo 4 - Situação Cabeluda - Parte 2


O dia estava como todos os outros. Nublado. Um clima tempestuoso estava se formando: Ventos uivantes que balbuciavam palavras sem sentido nos ouvidos dos vagais Royal Dark Knights.
Estávamos eu, Dionathan, Rodrigo e o Ryu sentados no topo do shopping, no terraço. Rodrigo estava procurando por pombos ou outros seres voadores, excluindo dragões como sua querida Heike e infelizmente dragões como eu, para derrubar; Dionathan estava tentando planejar um cardápio para a semana em sua prancheta; Ryu penteava seus pêlos de quimera para tirar os pêlos soltos para não enfurecer ao Andrew. Eu estava trabalhando no navio/mecha e esperando pelo projeto de propulsor que o Andy estava projetando em algum lugar lá embaixo. 
Eu já estou farto de não conseguir alcançar certos lugares por estarmos restritos a navegarmos por mares e rios ao descer da Izanagi, então pedi ajuda do Andrew para projetar algo que faça o navio flutuar. Sou bom em engenharia, mas há coisas como combustível, baterias, e etc que envolvem coisas teóricas que vão além do meu conhecimento, por isso a ajuda do Andrew. Mas o maldito tinha mesmo que perder tempo construindo a armadilha? Maldito.
Ouvi um barulho pelas escadas. Duas vozes femininas, uma delas pertecendo a uma garotinha. Eram a Heike e a Yuu subindo para nos ver.
- Cheguei primeiro! - Exclamou a Heike. A Yuu não respondeu porque estava ofegante demais.
Sempre achei a Heike uma garota interessante, afinal ela é a única pessoa que conversa com a Yuu como eu. Mas em toda ocasião em qual vou falar com ela, o Rodrigo por ciúmes ou qualquer outro sentimento besta a puxa pra longe.
- Rodrigo! Viu como sou rápida? - exclamava a pequena garota.
- Sim sim Heike. Mas estava apostando corrida com quem?
- Yuu.
Intermission: Rodrigo.
O que essas pessoas têm de errado?!
Fim do Intermission do Rodrigo.
Rodrigo chama a Heike pra perto de si e vão para um canto onde supostamente eu não conseguiria escutar.
- Você sabe que não consigo vê-la, certo Heike?
- Como assim Rodrigo? Mesmo ela estando sempre perto de nós?
- Sim. Poderia pelo menos me dar uma descrição dela pra mim?
- Bom, ela é maior que eu mas menor que você. N-não que eu esteja te chamando de baixinho. Usa um vestido longo e branco. Tem olhos amarelados e cabelos que vão até a cintura brancos, e sempre deixa a franja tampando um de seus olhos. O Ciro sabe que você não vê ela?
- Não, mas isso é um segredo hein.
- Fufufufufufu. Se quer que eu guarde esse segredo, vai ter que me comprar um revólver. 
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