sábado, 24 de novembro de 2012

Capitulo 5 - Phantom Mayhem - Parte 2

Intermission: Lenarth

"Nunca me canso de ver o por do sol do alto do farol. Não importa o que aconteça, eu amo essa ilha. Foi por isso que voltei em primeiro lugar. Certo, provavelmente estou pulando partes da história. Então, vou começar do princípio. Meu nome é Lenarth. Sou um humano habitante de Manticore Island. 

Nossa ilha não aderiu ao sistema de globalização imposto pelo Royal Empire e seu exército, conhecido como Royal Guards. Por isso, somos automaticamente vistos como inimigos e considerados hostis, apesar de jamais termos interferido com oh-tão-grande-império deles. Mas, como não temos qualquer valor estratégico e praticamente vivemos da nossa própria ilha, eles provavelmente consideraram que não vale o tempo vir até aqui. 

Ah, droga, acabei desviando do assunto. Bom, voltando a ilha. Manticore foi dado como nome simplesmente por ser berço de centenas de animais dessa espécie todo ano. São animais perigosos, mas parecem não se incomodar com os habitantes da ilha. Todo ano na primavera eles vem para dar a luz a novos filhotes e vão embora no fim do verão. É um espetáculo e tanto se você quer saber. Nós que moramos na ilha temos um juramento de jamais interferir com o ciclo natural da espécie.

Como habitante dessa ilha, tenho muito interesse nesses animais, e também em magia. Muitos dos animais originais desse planeta conseguem usar algum tipo de magia. É tão natural para eles quanto respirar, sabem fazer desde que nascem. Nós humanos precisamos passar por muito trabalho para conseguir dominar algum tipo de magia e muitos jamais conseguem dominar qualquer habilidade. Por isso, quando descobri que tinha aptidão mágica, quis buscar um lugar que me ensinasse. O problema era a minha aptidão. O tipo de magia com que sou compatível é Necromancia. Um tipo de magia que é considerado proibido pelo Royal Empire. E por isso, não existe quase ninguém no mundo que ainda domine a técnica. Fora eu mesmo, conheci apenas dois. Meus professores. Viajei por dois anos de ilha a ilha para encontrá-los. E passei outros cinco anos estudando a magia com eles. Sinceramente, eu achava que por ser uma magia banida, deveria ser algo com que as pessoas não gostariam de lidar. Mas meus professores, Damião e Jolice me ensinaram que a Necromancia tem seus lados bons também. Graças a eles, ganhei confiança em minhas habilidades. Embora oficialmente ainda esconda meus poderes. Gostaria de falar mais sobre os dois, mas acho que isso ficará para outra hora…"

— Lenarth!

— Hum? O que foi Reinald?

Reinald é um jovem garoto de quinze ou dezesseis anos e é o verdadeiro operador desse farol. Como estou sempre aqui, acabo ajudando-o com o serviço e dando um pouco de descanso para ele. Pode parecer fácil, mas tomar conta desse farol sozinho é um feito e tanto. Principalmente depois que o pai dele morreu.

— Bom… eh? O que você está fazendo?

— Ah isso… hahaha… estou tentando começar um diário… pela vigésima vez…

Sinto que o animo na minha voz foi sumindo gradualmente. Realmente, já escrevi esse mesmo trecho tantas vezes que já sei de cor. Mas de alguma forma nunca parece ser bom o bastante e eu acabo descartando e começando de novo. Talvez devesse ter aproveitado minha viagem e ter procurado algum escritor que aceitasse aprendizes.

— Sinceramente, pelo menos deixe alguém ler antes de jogar fora dessa vez.

— Não, primeiro preciso conseguir um resultado satisfatório.

— É o que você diz, mas só a quantidade de folhas que você já gastou tentando começar esse livro, daria para fazer um livro por si só.

— Claro, e o título seria "As tentativas de Lenarth de começar um livro". Acho que não vai vender muito bem.

— Ah, não é disso que vim falar. Veja, parece ter um navio se aproximando do porto.

— Hein?

Olhei pela janela do farol. A parte da ilha em que o farol se encontra forma um "J". O farol está na ponta da perna menor, e o porto em si no final da perna maior. E obviamente estamos mais perto da cidade do que o porto. Como esse é o único lugar em que é seguro atracar ao redor da ilha, esse posicionamento permite que o operador do farol consiga chegar a cidade mais rápido do que o inimigo no caso de um ataque. Bom, ou essa era a intenção quando isso tudo foi construído, mas essa ilha não vê conflitos a pelo menos 100 anos.

Pela janela, vi um barco flutuando um pouco acima do nível da água. Um barco capaz de flutuar no ar? Embora não pareça ter estrutura suficiente para voar apropriadamente. Bom, tecnologia de voo é uma coisa um tanto recente, então não é tão surpreendente ver uma bizarrice como essa. Mas enfim, quem serão e o que estarão fazendo aqui?

— Já viu eles alguma vez, Reinald?

— Não, mas me lembra uma história que ouvi dos mercadores que vieram mês passado. Um grupo de Sky Pirates chamados Royal Dark Knights.

— "Royal" Dark Knights? Então eles estão com o Royal Empire?

— Não, pelo contrário. Parece que usam o nome Royal apenas para irritá-los, embora essa razão jamais tenha sido confirmada. São inimigos declarados dos Royal Guards e ouvi falar que nunca perderam uma luta para eles.

Agora isso é uma coisa que não se ouve todo dia. Mas o inimigo do nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo. E eles são piratas, podem ser apenas um bando de bandidos que não se importa aonde roubar. Preciso confirmar as intenções deles.

— Reinald, vá para a cidade e avise o prefeito.

— Eh? Mas… você acha que é preciso?

— Não sei, mas melhor garantir. Vou tentar confirmar a intenção deles. Se tiverem vindo em paz, os acompanharei até a cidade. Se não, tentarei chegar primeiro e avisar a todos. Mas por via das dúvidas, se eu não estiver com eles quando chegarem a cidade, os tratem como inimigos.

— Certo.

Reinald correu para as escadas e começou a desce-las com impressionante agilidade. Bom, ele vive nesse farol desde que foi trazido para a ilha. Pensei em usar as escadas também, mas pensando duas vezes. Não tenho paciência para isso, e estamos na temporada de Manticores afinal de contas. Simplesmente subi mais um andar que leva ao topo do farol. A vista daqui é um pouco melhor, mas Reinald sempre reclama que pessoas não autorizadas não são permitidas aqui. Bom, é o trabalho dele. Como necromante, posso invocar e controlar demônios e espíritos malignos. Isso normalmente não me salvaria de uma queda de onze andares se eu fosse cair daqui. 

De qualquer forma, Mantícores são seres alados. E eles não vem a essa ilha apenas reproduzir. Como muitas espécies de animais, muitos lutam para conseguir acasalar e alguns morrem no processo. Isso faz com que o espírito dessas criaturas morram carregando ressentimentos. Como necromante, também posso induzir um "tratamento" a essas almas. Esse é o lado bom da necromancia sobre o qual tinha escrito. Nesse quesito, sou um pouco parecido com um espiritualista ou um xamã. Mas a parte toda do invocar e controlar espíritos malignos não costuma ser bem vista. Sem falar que almas por si só são inofensivas (na maior parte do tempo) preciso criar um corpo para eles usando restos de outros corpos e isso não costuma ser muito bonito. Droga, acabei me perdendo no assunto de novo. Resumindo, enquanto não consigo acalmar o espírito dos Manticores corretamente, posso controlá-los. Ainda estamos em pleno verão, então muitos corpos ainda estão em bons estados, assim posso passar por um mero controlador de feras, já que não posso simplesmente revelar que sou um Necromante.

Poucos instantes se passaram e um Manticore pousou próximo a mim. O corpo está um pouco ferido, mas nada aparente, o corpo provavelmente morreu de velhice ou simples doença. Mas a alma dentro está claramente enfurecida. Se tivesse tempo, eu gostaria de passar mais tempo cuidando desse espírito.

— Sei que você está irritado. Sei que tem arrependimentos. E ser controlado dessa forma deve ser frustrante. Mas preciso que você me ajude, e em troca, definitivamente o ajudarei depois.

Ele provavelmente não entende minha língua, mas ouvi falar que esses animais conseguem entender as intenções por trás das palavras. Espero que esse seja o caso. A longa causa de escorpião ligada ao corpo do felino se desenrolou, e ele abriu as asas de forma a deixar as costas expostas. Montei no animal aproveitando para sentir a rigidez do corpo. Não parece ter morrido a muito tempo, realmente. A alma não precisa ser necessáriamente a original que existia no corpo anteriormente, posso aplicar qualquer alma em qualquer corpo desabitado. Mas dessa vez parece ter sido uma coincidência, já que a alma está respondendo bem de mais ao corpo para não ter conexão. E eu fiz a magia aleatoriamente. Deve ser meu dia de sorte.

Desperdiçando um último olhar para o por do sol, pensei nos habitantes da cidade. Eu realmente amo essa ilha, e as pessoas que moram nela. Não importa quem sejam esses visitantes, se tiverem más intenções, não os deixarei passar não importa o custo. Espero que realmente seja meu dia de sorte e que não precise forçar esse animal já perturbado a lutar. As asas do animal começaram a bater. Senti um pouco de mágica fluindo no ar. O corpo deles simplesmente não poderia voar sem a assistência de mágica, são muito grandes para o tamanho das asas, e ele é capaz de invocar essa magia mesmo após a morte. A cauda que possui um veneno poderoso abaixou ainda mais para não me ferir. E assim o animal partiu em direção ao porto. Só espero que esse não seja um encontro ruim.

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